Antonio Correia morreu em hospital paulista no dia 14 de janeiro de 2015 (Arquivo/Agência Miséria)
Como forma de homenagem póstuma, o Site Miséria lembra hoje exatos cinco da morte do médico Antonio Correia Saraiva. Ele foi prefeito de Ibiapina, vereador em Barbalha e diretor dos hospitais Santo Antonio, do Coração e do Arajara Park. O mesmo faleceu aos 70 anos no Hospital Sírio Libanês de São Paulo em decorrência de um câncer no dia 14 de janeiro de 2015 após várias semanas internado.
Ele foi casado com a professora e ex-secretária de educação de Barbalha, Antonia Fabíola Correia Saraiva. Além de exímio profissional na área de saúde, era empreendedor e, junto com familiares, dotou Barbalha dos modernos Hospitais Santo Antonio e do Coração. Além disso, enveredou pela área de lazer com a construção do Arajara Park um dos mais amplos e modernos parques aquáticos do interior do Ceará.
Doutor Antonio Correia foi prefeito de Ibiapina e disputou sem êxito a Prefeitura de Barbalha. Na eleição de 2012 disputou o cargo de vereador pelo PSB e foi o mais bem votado da coligação “Barbalha Cada Vez Melhor” e o segundo lugar no geral com 1.786 votos. Releia o artigo que o médico Ângelo Roncalli tinha escrito dias antes para o Site Miséria fazendo uma saudação a Antonio Correia pelos seus 70 anos.
“Desde que me conheço como pessoa, conheço Antônio Correia. O primeiro nome que vinha em mente, Tõe, um dos meninos de Tia Otília, povoa uma afinidade que trago comigo desde a minha infância. A infância traz marcas profundas em nossas vidas e a gente as carrega até onde a nossa consciência alcança; e marca tão profundamente, que nem mesmo o tempo, que corroi estruturas, não apaga, e as lembranças afloram como sementes em solos férteis.
De manhã cedo, ouvia vozes na sala da minha casa de um primo que havia chegado de Recife e esperava a chegada do Jipe do meu tio que logo viria da Bulandeira buscá-lo.
Sabia que iria ser doutor, isso me enchia de significado e de orgulho…
Algum tempo depois ele já era médico, admirado por todos da família, em um tempo em que essa profissão provocava elogios suspirosos e um respeito intenso das pessoas.
Ouvia meus pais, orgulhosos, bradarem que os três meninos de Tia Otília formaram-se em Medicina, e que Antônio, Antônio exalava uma áurea especial, pois era o front da batalha, era a peça mágica inspiradora, que inspirava os irmãos, inspirava-nos os primos, orgulhava uma família, era o Bastião, uma seta condutora. E, tenho certeza, a sua determinação e inteligência inspiraram seus irmãos, meus irmãos e também a mim.
Os seus pais, humildes, apesar de outrora a sua mãe ser bem-nascida, lograram do suor da terra e do que ela produzia para promover o seu sustento. As agruras da dificuldade sempre o estimulavam, e as orações incansáveis da minha tia eram incessantes. Tão frequentes que familiares em anedota,citavam: Otília rezou e formou os três filhos, se persistir rezando dessa forma, não tardará formar Vicente, seu esposo.
Era incansável, e nisto Antônio tornou-se incansável. Nunc a enxergou limites…
Logo percebi, com o que ouvia, que Tõe era mesmo especial. Ao frequentar a casa dos meus tios, e buliçoso como criança curiosa, observava um quadro cheio de retratos de médicos que ficava na cristaleira de minha tia e que tinha uma medalha pendurada e que eu entendia que eram os retratos de vários médicos formados e lá estava o dele. E por que aquela medalha? Eu soube que ele tinha sido laureado. E que apenas muitos anos depois eu compreendi que laureado era o Aluno que fora destaque durante o seu curso de Graduação em Medicina.
Era um tempo de sonhos! E como era gostoso frequentar o sítio de minha Tia, delicadamente cuidado, um pomar a exalar uma atmosfera familiar e um doce cheiro de felicidade.
A curiosidade de criança me fez ouvir coisas que ainda trago na lembrança e que reforçaram por Antônio uma admiração especial, pois o seu coração era maior que o médico que agora era. Ouvia dos meus pais: Tio Vicente e tia Otília ficaram em sérias dificuldades financeiras para que eles estudassem. Mas quando ele se formou, pagou as dívidas do Pai, reformou a casa destes, e ajudou a formar e orientar os irmãos sobre o que seguir na profissão.
A sua vitória foi marco para uma família e que estimulou também aos meus irmãos, seus primos para que todos os 8 também se formassem.
Depois, partiu numa carreira vitoriosa, foi à serra de Ibiapaba, onde exerceu os seus primeiros anos de carreira, e depois para a Alemanha, em atitude de vanguarda, (uma característica determinante em toda a sua vida), onde se especializou por dois anos em doenças respiratórias.
Retornou para o Brasil e viu que era o momento de retornar à sua querida terra Natal, afinal havia casado com Fabiola, filha da terra, de família representativa e uma dama prendada e companheira de todos os momentos, que também o havia acompanhado ao exterior.
Trabalhou no Hospital São Vicente e logo instalou consultório na rua do Video em Barbalha e conquistou a região como um médico carismático, eficiente e competente.
Seus irmãos retornaram formados para o Cariri, antes o José tinha trabalhado em Viçosa – CE e agora estava em Crato e o João, após residência em Oftalmologia no Rio de Janeiro, instalara-se também naquele município. O primo quase irmão, Ribamar correia, também estava retornando a Barbalha e em atitude inspirada, juntos com estes e o também parente Tenente Coelho construíram o Hospital Maternidade Santo Antônio.
Nunca se conformou com a construção daquele Hospital como um mero Hospital – Maternidade do interior. Projetos diuturnamente revolucionavam sua mente inquieta e criadora. E Alçou voos; Primeira UTI Barbalhense, Hemodiálise, Eventos Científicos, inquieto em busca de profissionais de outras regiões que aqui não dispunha.
Quem assim ouve, parece que o mesmo encontrou facilidades para tanto realizar. Muito pelo contrário, encontrou sempre inúmeras portas fechadas, duras argumentações, dificuldades extremas, mas driblou todas com perspicácia, constância, perseverança…
Cresceu com muita luta, apareceu e venceu…
Sua obstinação e determinação, mostrava um coração incansável, um parceiro eficiente e criativo.
Em grandes momentos de crise na saúde local e nacional, quando hospitais fechavam portas, como hoje ainda observamos, fez diferente. Enquanto donos de hospitais choravam de pires na mão, Antônio inovava. Chegou a criar quase simultaneamente ao Hospital São Vicente de Paulo, também um plano de Saúde, próprio, o Cariri Saúde, para não sucumbir às dificuldades financeiras globais do sistema de saúde e venceu.
Venceu pela determinação, pela união indistinta com os seus irmãos, parceiros de todas as horas, e pela certeza que desistir era uma palavra não escrita no seu dicionário.
Após superada a crise, expandiu-se espetacularmente, criando o serviço de referência em Neurocirurgia que atende e salva milhares de vidas em todo o sul do Ceará e Estados vizinhos e o Hospital do Coração do Cariri, um centro de excelência na região, um oásis de tecnologia e que traz a esperança e o alívio de milhares que buscam os seus atendimentos.
Participou intensamente da vida política Barbalhense dos últimos 40 anos, onde, teve talvez uma das poucas frustações, pois sonhava, sem dúvida, ser um grande prefeito na história da Barbalha, não por vaidade, mas pela vontade incansável de realizar e empreender. Sempre foi parceiro político forte e de luta, não havia hora para não colaborar com os seus correligionários quando assumia o compromisso.
Como um gigante, criou o complexo Arajara Park, de dificuldades inimagináveis. Mas, para cada porta fechada, uma perspicácia extrema, uma doação sem limites, e o fez. E conseguiu algo que nenhum político até então conseguira: unir Barbalha a Crato através de uma estrada asfaltada. Escreveu Arajara definitivamente no mapa nacional, com a grandiosidade de um lugar maravilhoso, espalhando desenvolvimento e ajudou a dar visibilidade a uma espécie de pássaro em extinção, o Soldadinho do Araripe, hoje ícone do Cariri.
Conheci e conheço Antônio e o admiro.Admiro pois muitos não sabem o tamanho do seu coração. Um coração que ajudou a resgatar um pobre familiar que estava na lama do alcoolismo e o vestiu de nova oportunidade com tratamento, emprego e moradia que comprou para ele e sua família, tratando-os com respeito e carinho e sendo parceiro, sem nada pedir em troca, só pela dádiva de ser família. Isso ele nunca divulgou, mas eu sei…
Sei que tem defeitos. Mas, quisera eu que as pessoas tivessem defeitos e realizassem apenas migalhas do gigantismo das obras que ele realizou, mantendo a sua humildade e perseverança.
Ah como o mundo precisa de visionários como você. De loucos como você.
Minha esposa em feliz inspiração costuma me dizer: essas pessoas, Deus faz a forma e joga a receita fora, são inigualáveis, raros…
Para Antônio, os sonhos não envelheciam, aliás não ficavam guardados em prateleiras, seus sonhos não eram para sonhar, eram pra ser realizados e tantos os foram, tantos, pois há ainda poucos meses apresentava-me com os olhos brilhantes ao lado da doce Fabiola, planos de expansão do Arajara Park…
Agora, encontra-se enfermo, trava dura batalha em São Paulo em busca da saúde, e mantém-se suave no ensejo, resignado, mas combativo, obediente, concentrado, emotivo…
Tive o prazer de visitá-lo há poucos dias, e vi um homem, preparando-se em corpo e alma, esperançoso e disciplinado, características que eram sua insígnia, sofrido, mas sem desistir jamais.
Fernando Pessoa diz que: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.
Antônio, o panteão dos heróis barbalhenses abre-se de tapetes e orgulho para receber seu nome.
O nome de Alguém que ajudou a preservar o Soldadinho do Araripe, tornou-se sempre um verdadeiro menino da Bulandeira, Médico do Hospital Santo Antônio, Empresário do Arajara , Soldadinho da Barbalha e também uma grande soldadinho do Cariri!!!
Obrigado por tudo, Feliz Aniversário, que Deus o Abençoe!!!