Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Produtores rurais da região de Carajás, no Pará, têm vasculhado a floresta Amazônica em busca de sementes de árvores nativas da região. Ao logo dos últimos três anos, cerca de 17 toneladas de sementes foram coletadas, o que gerou mais de R$ 2,8 milhões em renda às famílias. Neste domingo (5) é celebrado Dia Mundial do Meio Ambiente, a ação reforça o impacto social e econômico da importância da conservação de florestas.
A iniciativa é uma parceria da Vale com a Cooperativa dos Extrativistas da Flona de Carajás (Coex). Entre as espécies coletadas na Floresta Nacional de Carajás estão a castanha-do-Pará, jaborandi, flor de Carajás, açaí, ipê amarelo e tantas outras espécies em uma diversidade de formas, cores e tamanhos presentes na Amazônia. Toda a variedade coletada é adquirida pela Vale e empregada em ações de recuperação de áreas mineradas ou de compensação ambiental realizadas pela empresa.
Após coletadas, as sementes são misturadas e formam um mix, mistura de várias espécies, que plantado possibilita a recuperação do verde em área antes utilizadas pela mineração. São dessas sementes que as mudas utilizadas nas áreas de compensação ambiental são produzidas. O plantio é planejado com base em espécies que possam atrair animais polinizadores e dispersores de sementes, fazendo com que a floresta predomine novamente.
“O meu sentimento é de restauração da vida, de poder contribuir com dias melhores para a humanidade”, afirma a presidente da Coex, Ana Paula Nascimento. “É uma atividade muito promissora que tem um mercado mais aberto em comparação a coleta da folha do jaborandi e que vem fomentar a renda dos cooperados. Sem falar na questão ambiental, em estar contribuindo para o reflorestamento e manter a floresta em pé”, acrescentou.
Região Amazônica
Em 2019, a Vale se comprometeu a proteger e recuperar mais 500 mil hectares de florestas no Brasil até 2030. Na região Amazônica há 40 anos, a mineradora apoia a proteção de uma área de 800 mil hectares, conhecida como Mosaico de Carajás no Pará, equivalente a cinco vezes a área da cidade de São Paulo. Segundo a mineradora, a atividade ocupa menos de 2% deste total.
De acordo com o gerente de Meio Ambiente da Vale no Pará, Paulo Rogerio Oliveira, mais de 200 espécies foram coletadas ao longo dos anos, entre castanha-do-Pará, jaborandi, a flor de Carajás, o açaí, ipê amarelo entre outras, e estão sendo utilizadas ao longo das áreas em processo de reflorestamento.
“Essas sementes são as responsáveis por promover no futuro o retorno da biodiversidade ao local e por manter a floresta em pé, a recuperação de áreas mineradas e a recomposição ecossistêmica de áreas de preservação permanente e garantir a conservação de toda beleza que é a Amazônia. Além da relevância social, contribuindo com o desenvolvimento da região, gerando trabalho e renda às famílias extrativistas associadas a Coex”, avalia Oliveira.
Mapeamento
A atuação dos cooperados também amplia o conhecimento sobre a diversidade da Amazônia com capacitação para a identificação e mapeamento de plantas chamadas matrizes, de onde é coletada a semente. No processo de resgate de germoplasma (coleta de sementes) também é acompanhado o ciclo de floração, frutificação e de dispersão de sementes, o que contribui para garantir a variedade e a sua qualidade.
Segundo o especialista em Restauração Florestal da Universidade Federal de Viçosa, Sebastião Venâncio Martins, a semente é indispensável na cadeia de restauração de florestas.
“A coleta de sementes nativas da Floresta Amazônica gera muitos impactos importantes, tanto sociais, ambientais como econômicos. Nós temos que lembrar que a base da produção de mudas para reflorestamentos é a semente. Então, todo processo para ter um resultado positivo começa lá na colheita de sementes, onde há seleção de árvores matrizes, diversidade de espécies e a geração de mudas de alta qualidade, que apresentam diversidade genética. Isso é extremamente importante para manutenção dessas florestas no futuro”, explica o professor.
De acordo com Martins, as sementes coletadas na floresta podem seguir dois caminhos: a produção de mudas restauração florestal ou na semeadura direta.
“Hoje há uma técnica bastante utilizada, não só na Amazônia, mas na Mata Atlântica também e outros biomas, que é a chamada muvuca de sementes, a mistura de sementes que é incorporada ao solo degradado e pode ser utilizada para enriquecimento de áreas com regeneração natural”, explica. “A cadeia de produção das “sementes” vai gerar bens madeireiros e não madeireiros, como castanhas, palmitos, frutos, que vão possibilitar a comercialização gerando renda para o pequeno produtor”, observou.
O material coletado também pode ser utilizado por meio da “transposição da chuva de sementes”, sistema em que as sementes são retiradas através de coletores instalados na floresta e transferidos para área de restauração.
“As espécies da floresta amazônica têm um grande potencial para utilização, tanto em áreas de restauração ecológica para conservação quanto para restauração produtiva. Temos vários exemplos de espécies da Amazônia que já são utilizadas como a seringueira, a castanha do Pará, o açaí”, afirma.