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No Brasil, mais de 4.500 profissionais de saúde morreram por covid-19, revela estudo
Oito em cada dez dos que morreram salvando vidas durante a pandemia eram mulheres
Yanne Vieira
ONG Rio de Paz estende 600 lenços brancos em frente ao Congresso Nacional como homenagem às vítimas da covid-19. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Entre março de 2020 e dezembro de 2021, morreram no Brasil mais de 4.500 profissionais da saúde pública e privada. Oito em cada dez dos que morreram salvando vidas durante a pandemia eram mulheres. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (13), pelo estúdio de inteligência de dados Lagom Data e foi feito especialmente para a Internacional de Serviços Públicos (Public Services International).

A pesquisa faz parte da campanha documental da ISP, que atua com o sistema das Nações Unidas em parcerias com a sociedade civil. O documento denuncia a situação de quatro países nos momentos mais intensos da pandemia de covid-19, sendo eles o Zimbábue, Paquistão, Tunísia e o Brasil.

Rosa Pavanelli, secretária-geral da ISP, explica a situação da pandemia nesses países. “Faltaram equipamentos de proteção, oxigênio, vacinas, medicamentos, sobraram mensagens falsas e desaforadas do governo sobre a Covid-19, chocando o mundo. E até hoje os profissionais da linha de frente seguem desvalorizados no Brasil”, afirma.

A análise foi feita a partir do cruzamento de microdados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados e Registros de profissionais do Conselho Federal de Medicina (CFM) e do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen).

A pesquisa revela que as mortes entre os profissionais brasileiros de saúde se concentraram mais rapidamente do que o observado na população geral, especialmente nos meses em que faltaram equipamentos de proteção individual para esses trabalhadores.

O impacto da doença foi maior nas ocupações com menores salários e mais próximas à linha de frente como auxiliares e técnicos de enfermagem, que morreram proporcionalmente mais do que enfermeiros, e estes, proporcionalmente, mais do que os médicos.

O jornalista de dados Marcelo Soares, responsável pela análise, afirma que o índice se dá pela exposição dos profissionais, “apesar de os dados serem incompletos, é possível ver por meio deles o quanto os profissionais da saúde foram atingidos no começo da pandemia por estarem mais expostos […] Com a prioridade dada a eles na vacinação, os dados também mostram como vacinar mais cedo derrubou as mortes antes do resto da população”, conta.

70% dos mortos trabalhavam como técnicos e auxiliares de enfermagem; em seguida vieram os enfermeiros (25%) e por último os médicos (5%).

No total, 1.184 enfermeiros morreram, o que pode ter impactado diretamente o atendimento de 21.300 pacientes. Pelas regras do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), cada enfermeiro atende até 18 pacientes e cada atendente, 9 doentes. Em Manaus, por exemplo, cada enfermeiro atendeu 40 pacientes com o auxílio de dois atendentes.

Dois terços dos profissionais de saúde que morreram durante a pandemia provavelmente não tinham contrato formal de trabalho, segundo cruzamento entre os dados do Ministério da Saúde e informações sobre desligamentos por morte no Novo Caged. Tanto nos dados oficiais de emprego formal quanto nos registros dos conselhos profissionais, médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem representavam 61%, 20% e 18% dos profissionais empregados – o que ilustra as desigualdades de exposição ao risco dentro das especialidades da área da saúde.

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