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Crise climática pode afetar produção de café e elevar preços, diz estudo
Os pesquisadores analisaram os impactos de fatores climáticos como temperatura, precipitação e umidade
Yanne Vieira
Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Nas últimas quatro décadas, as condições climáticas que reduziram a produção de café tornaram-se mais frequentes, com o aumento das temperaturas a situação pode se agravar ainda mais, sugere um novo estudo publicado esta semana na revista PLOS Climate.

Os pesquisadores analisaram os impactos de fatores climáticos como temperatura, precipitação e umidade nos 12 principais países produtores de café do mundo entre 1980 e 2020. Esses, respondem por cerca de 90% da produção global, sendo Brasil, Peru e México nas Américas; Uganda e Etiópia na África; e Vietnã e Indonésia no sudeste da Ásia.

O estudo descobriu que a frequência de “riscos climáticos”, ou seja, as condições de crescimento abaixo do ideal, devido a extremos como altas temperaturas, aumentou em todas as regiões durante esse período. Cinco dos seis anos mais perigosos ocorreram entre 2010 e 2020.

As temperaturas ideais de cultivo para as duas principais variedades de café, arábica e robusta, são de 18 a 22°C e de 22 a 28°C. Os estudiosos descobriram que, entre 1980 e 2020, as regiões produtoras eram mais propensas a experimentar temperaturas muito baixas.

O clima atual, no entanto, é caracterizado por condições muito quentes em todas as regiões”, descobriram, acrescentando que “a grande maioria das regiões cafeeiras nunca experimenta temperaturas muito frias na estação de cultivo”, aponta a pesquisa.

O principal autor do estudo, Dr. Doug Richardson, disse que a mudança de condições frias e úmidas para quentes e secas é resultado da mudança climática.

Os pesquisadores escreveram: “Com as projeções de mudanças climáticas mostrando que é provável um aumento contínuo das temperaturas nos trópicos, sugerimos que a produção de café pode esperar choques sistêmicos contínuos”.

Assim como acontece com outras safras, um risco sistêmico para o comércio global de café é representado por quebras de safra sincronizadas”, acrescentaram.

Pesquisas anteriores mostraram que a quantidade de terra adequada para o cultivo de café em todo o mundo pode cair pela metade até 2050 devido às mudanças climáticas.

Richardson disse: “Se você tiver um choque na oferta de café em um determinado ano, se não houver café suficiente armazenado de anos anteriores, poderá esperar que o preço aumente”.

Os autores também analisaram os impactos de seis fatores climáticos diferentes na produção de café, incluindo o El Niño-Oscilação Sul (Enso), a flutuação climática anual mais significativa do planeta.

Durante os eventos do El Niño, vemos uma chance maior de as condições serem muito quentes ou muito secas, e é praticamente o contrário para o La Niña”, disse Richardson.

Embora o El Niño tenha efeitos globais, parece ter menos impacto no sul do Brasil, o maior produtor mundial de grãos arábica. “É uma sorte que seja menos afetado pelo Enso”, disse Richardson. “O que esperamos é que, durante os eventos do El Niño, os fornecedores do sul do Brasil possam compensar as reduções [na safra] em outros lugares.”

Os pesquisadores descobriram que as principais regiões de arábica no extremo sudeste do Brasil e sudoeste da Etiópia estão entre as regiões menos suscetíveis aos riscos climáticos.

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