Paulo Junior
Paulo Junior é jornalista formado pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Cobre o ambiente político desde as primeiras atividades na área, tendo desenvolvido pesquisas também nesse ramo, especialmente através de estudos do HGPE. Desde 2020 produz artigos de análise de conjuntura com viés opinativo, porém, guiado sempre pela observância dos fatos.
Paulo Junior
Paulo Junior é jornalista formado pela Universidade Federal do Cariri (UFCA). Cobre o ambiente político desde as primeiras atividades na área, tendo desenvolvido pesquisas também nesse ramo, especialmente através de estudos do HGPE. Desde 2020 produz artigos de análise de conjuntura com viés opinativo, porém, guiado sempre pela observância dos fatos.
Foto: André Borges
Há exatamente um ano o Brasil viveu um dos piores dias da sua história, o que aconteceu no 8 de janeiro de 2023 é algo que ficará marcado na memória coletiva do país. Naquela data o que se viu foi uma tentativa hedionda de destruição do Estado Democrático de Direito. Em uma tarde que deveria ser como outra qualquer, milhares de pessoas invadiram a sede dos três poderes da República e, sem apreço nenhum ao ideal de um país livre, clamaram por intervenção militar.
O 8 de janeiro ainda não morreu, ele segue vivo e quanto a isso é preciso atenção. Desde aquela data, classificada por Rosa Weber, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, como dia da infâmia, muito se fez. Centenas foram presos, condenados. As instituições se fortaleceram e seguem tentando responder a tudo que busca atentar contra a democracia brasileira. Contudo, é nítido que o ambiente ainda não se encontra equilibrado, o Brasil persiste cindido e enquanto a cisão atual prevalecer o estado democrático viverá sob tensão.
As respostas dadas um ano atrás, que demonstravam união entre os poderes devem seguir ainda mais fortes. Não existe democracia viva quando os poderes constituídos se digladiam ao invés de fortalecer o ambiente em que se sustentam. Nessa linha, cabe a todos as instituições nacionais a consolidação de ações capazes de visualizar o fechamento das feridas e o cara a cara com as questões centrais de sua formação.
Um ano depois do dia que marcou a tentativa abissal de delapidação da democracia nacional, se visualizou atos em Brasília, mas, parece que a força foi menor do que se esperava. Aqui cabe pontuar que neste aspecto não se pode fazer uma política partidária, porque o contexto é de institucionalidade. Assim, é depreciativo ao ambiente da liberdade que 15 governadores tenham julgado positivo ausentar-se da fotografia da institucionalidade, da unidade democrática e da busca pela garantia de que aquelas cenas serão apenas o passado e jamais uma projeção de futuro.
O 8 de janeiro de 2023 foi a evidência de que a jovem democracia brasileira tem capacidade de resistência, e que ela não se curvará a sanha autoritária que ainda banha alguns setores do país. Porque sim, é preciso encarar o fato de que havia conivência de parte das Forças Armadas (Exército, Marinha, Aeronáutica). Assim, não se pode seguir sem a realização de ações que devolvam de modo efetivo e claro os militares ao seu posto. Militares ocupam a institucionalidade, são forças a serviço da nação e sob comando civil, sem autoridade para tomar o poder e gerir a pátria de modo arbitrário.
Em um ambiente de democracia constituída, as eleições são o campo da disputa de poder. Portanto, para ocupar esse lugar, para ascender a chefia do executivo deve-se se sujeitar ao sufrágio do povo. É preciso também, no entanto, enfrentar com a força devida os agentes políticos que atuaram ou omitiram-se no dia que marcou a sanha do sonho autoritário moderno.
Nessa linha, ainda é preciso esclarecer o papel condescendente do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB). O govenador manteve-se letárgico durante horas, e neste aspecto é notável que a letargia favorecia a destruição.
Entretanto, é fundamental encarar o ex-presidente Bolsonaro (PL). O ex-presidente é ponto central ao 8 de janeiro de 2023, ele demorou a reconhecer a derrota, mentiu sobre a lisura do processo eleitoral, incitou seus apoiadores, deu carta branca para seus auxiliares apregoarem um pseudo ideal de resistência. Bolsonaro pode não ter orquestrado a destruição de um ano atrás, mas, foi responsável por parte da força motriz que o gerou. Agora, tenta recontar a história em falácias sem medida. Aquele dia da infâmia bebe diretamente no maremoto que Bolsonaro formou no instante em que demonstrou seu desapreço pela democracia.
Um ano depois, é relevante que o 8 de janeiro de 2023 não seja esquecido, que seja a marca do Brasil que não se quer. 8 de janeiro deve ser o lugar que deixa expresso o porquê de as instituições serem tão necessárias. Portanto, é preciso fortalecê-las. Aquela imagem da descida da rampa do Planalto, onde seu viu executivo, legislativo e judiciário de mãos dadas precisa ser cotidiana. Aqui frisa-se que não se trata de subserviência de um poder a outro, porém, de união em defesa de um Estado forte, vivo e, sobretudo, democrático.