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A sinfonia do sertão: conheça Ana da Rabeca, única mulher rabequeira do Ceará
Aos 76 anos, Ana da Rabeca ostenta o título de mestra e única mulher rabequeira conhecida no Ceará.
Cícero Dantas
Ana da Rabeca, única mulher rabequeira do Ceará. Foto: Arquivo Sesc Ceará

O som grave da Rabeca nos guiou ao final de uma estrada de terra batida, com uma vasta vegetação seca ao seu redor. Aos poucos, uma casa de paredes amarelas vai surgindo. Nela, vive Ana Soares de Sá Oliveira, a Mestra Ana da Rabeca, na zona rural de Baixio dos Gaviões, em Umari, centro-sul cearense. 

Mestra Ana é considerada a única mulher rabequeira conhecida no Ceará. Ela aprendeu o ofício observando seu pai durante a infância. “Quando ele chegava em casa, ele pegava a rabeca e começava a tocar. Sempre escutei meu pai. Foi vendo ele fazer, que aprendi a tocar e a afinar a Rabeca”, lembrou.

Ana conta que pegava o instrumento musical escondido, quando seu pai saia de casa. “Eu tocava escondida a rabeca. Porque eu tinha vergonha, não queria que o pessoal visse”, disse. A vergonha foi embora, e ela começou, por volta dos 16 anos de idade, a tocar, como seu pai, nas festas da região. 

Tempos depois, Ana ganhou do pai a rabeca. Que não é bem uma rabeca de origem, mas um violino francês com certificação. De acordo com a Mestra, certo dia, o violino acabou precisando de um conserto. O pai precisou desmontar e montar novamente o instrumento. Foi aí que ele perdeu o som agudo e ganhou um som mais grave, virando a tradicional rabeca.

Ana Soares de Sá Oliveira aprendeu a tocar rabeca de ouvido. Foto: Cícero Dantas

 

Título de Mestra 

Hoje, aos 76 anos, ostenta o título de mestra e única mulher rabequeira conhecida no Ceará. Um dos seus objetivos é transmitir todo o conhecimento de vida para as novas gerações. “Eu toco e ensino para a rabeca não acabar”, disse.

Com as sete rabecas que herdou do seu pai, Ana começou a ensinar alunos da zona rural a tocarem o instrumento. Atualmente, a escola conta com a participação de 9 alunos. Anderson Soares, filho de Ana, ajuda a mestra a administrar a escola que funciona em um dos cômodos de sua residência. 

A escola de música, criada em 2019, recebeu a certificação de Ponto de Cultura pela Secretaria de Cultura do Estado do Ceará em 2023. De acordo com Anderson, um dos sonhos da Mestra é ampliar a escola para um espaço que funciona ao lado da residência de Ana. Casa que foi nomeada como Museu Orgânico em abril de 2024, por meio de um projeto do Sesc Ceará em parceria com a Fundação Casa Grande.

 

O Museu Orgânico

O Museu Mestra Ana da Rabeca é o primeiro museu orgânico a homenagear o ciclo instrumental popular do Nordeste Brasileiro, no município cearense Umari. O espaço conta não apenas a história da Mestra Ana, mas de toda a sua família. 

Os instrumentos musicais, os potes de barro, os instrumentos de ferro, artesanato e até tijolos. O museu respira toda a memória da família. Em cada cômodo, um homenageado. 

A Mestra Ana relembrou a emoção da criação do museu, considerando-o uma verdadeira homenagem ao seu pai. “Essa é uma verdadeira homenagem a meu pai, ele é quem merece. Fico muito feliz, me faltam palavras para agradecer ao Sesc, mas sei que esse museu dará vida ao nosso município”, disse.

Residência da Mestra Ana foi nomeada como Museu Orgânico em abril de 2024. Foto: Divulgação/Sesc

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