A falta de EPIs é um problema com escala global por causa da intensa demanda, diz a OMS
Embora indispensáveis no ambiente hospitalar, os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) estão com baixo estoque nas unidades da rede pública do Ceará. A constatação foi feita por dois sindicatos da área a partir de denúncias registradas por profissionais de saúde. Lidar com a falta de itens básicos tem sido ainda mais preocupante por causa do alto potencial de transmissão do coronavírus.
No atual cenário pandêmico, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de máscara N95, touca, luvas, proteção ocular e avental em quartos com pacientes diagnosticados com a Covid-19. No entanto, o presidente do Sindicato dos Médicos do Ceará, Edmar Fernandes, aponta que as unidades locais não dispõem desses itens de forma suficiente.
“Todas as unidades existentes estão em falta com esses materiais. O que mais falta é a máscara N95”, diz, preocupado com a integridade clínica dos profissionais.
“Eles estão se contaminando e, se eles ficam doentes, a gente fica aflito sobre quem vai cuidar e quem vai assumir o lugar deles”, relata Fernandes.
O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Ceará (Sindsaúde/CE) informou que as denúncias aumentaram na mesma velocidade em que o coronavírus vem se propagando. A maior parte dos registros feitos à entidade também é referente à inexistência de itens de proteção.
“Recebemos denúncia de profissionais da Santa Casa de Fortaleza. Eles dizem que não tem EPIs para todos e que recomendam o uso dos equipamentos além do tempo orientado pelas autoridades de saúde. O mesmo acontece no Hospital César Cals e na UPA de Messejana”, pontua Marta Brandão, presidente do Sindsaúde/CE.
Proteção
Outra demanda em ascensão no sindicato é feita por agentes de saúde e endemias da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS). “Nós temos agentes que foram infectados porque estão desde o início trabalhando sem qualquer material de proteção”, alerta.
Uma agente de saúde que trabalha há 10 anos na Capital confirmou que a quantidade de EPIs não é suficiente para suprir a necessidade dos profissionais. “No começo, entregavam uma máscara em um dia; no outro, não tinha e ficava por isso mesmo”, diz a mulher, que pediu para não ser identificada.
Para ela, o ideal é que os agentes recebessem, no mínimo, três máscaras por dia, já que eles andam de casa em casa e transpiram, o que faz “perder a qualidade do material”. Durante o expediente, os profissionais precisam visitar de oito a dez residências, mas a agente diz ainda que há recusas por parte dos moradores.
“As pessoas estão negando a nossa visita, porque notam que estamos sem máscara”, relata. A agente chama a falta de EPIs como um ato contraditório. “Nós somos da promoção da saúde. Como é que vou promover a saúde se eu mesma não estou promovendo a minha?”, questiona.
Escassez geral
A problemática tem escala global por causa da intensa demanda por itens dessa natureza, diz a OMS. Para o diretor-geral da entidade, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a escassez de EPIs está deixando “médicos, enfermeiros e outros trabalhadores de saúde perigosamente mal equipados para cuidar de pacientes com Covid-19”. Ele complementa que o acesso limitado prejudica a capacidade de combater o vírus.
“Estamos preocupados com o fato de a capacidade de resposta dos países estar sendo comprometida pela grave e crescente interrupção no fornecimento global de equipamentos de proteção individual – causada pelo aumento da demanda, acumulação e uso indevido”, declarou.
Na última segunda-feira (7), o secretário estadual da Saúde (Sesa), Dr. Cabeto, comunicou que foram adquiridas 270 toneladas de EPIs para trabalhadores da saúde. O Governo local comprou os equipamentos de uma empresa chinesa e o material deve chegar até o dia 15 de abril.
Em nota, o Hospital Santa Casa de Fortaleza disse que tem disponível todos os equipamentos de proteção preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), Ministério da Saúde e Vigilância Sanitária. Sobre o tempo de uso, a unidade ressaltou que “o protocolo utilizado também segue o recomendado pelos órgãos”.
Diário do Nordeste