Essencial ao abastecimento do Estado, a Ceasa continua em plena atividade - Foto: José Leomar
Medição de temperatura, constante higienização das mãos, uso de máscara e distância de pelo menos um metro dos demais colegas de trabalho. Essa agora é a rotina de Leonardo Soares Barbosa Pinto após a chegada do novo coronavírus. Por trabalhar no ramo de alimentação, considerado essencial e autorizado a funcionar durante o isolamento social instituído pelo Governo do Estado, ele continua trabalhando normalmente.
“Muitas pessoas têm que ficar em casa e eu sou um dos responsáveis por levar alimentos. É um prazer vir trabalhar”, afirma o gerente da Agromix. Ele conta que desde a confirmação dos primeiros casos no Estado, a empresa providenciou termômetros para a medição da temperatura de todos que entrem no local, sejam funcionários, terceirizados ou outras pessoas.
O gerente da Agromix lembra que, nas primeiras semanas, houve até aumento da produção, diante da alta da demanda e estocagem de produtos que algumas pessoas estavam fazendo, mas que agora já foi normalizada.
Além de estar com a temperatura abaixo de 37ºC, Leonardo pontua a obrigatoriedade de lavar as mãos constantemente, utilizar máscara e manter distância dos companheiros de trabalho, medidas implementadas para reduzir as chances de contágio. “É desafiador ficar com a máscara o dia inteiro e conscientizar as pessoas de seguirem todos os direcionamentos. Mas estamos constantemente verificando se os protocolos estão sendo seguidos e o André fez algumas palestras pra reforçar isso”, afirma o gerente.
André Siqueira, sócio-diretor da Agromix e presidente do Sindicato das Indústrias da Alimentação e Rações Balanceadas no Estado do Ceará (Sindialimentos), diz que, das 130 empresas afiliadas ao sindicato, apenas uma parou, mas não por conta da pandemia. Ele acrescenta que as empresas se comprometeram a não realizar demissões e a adotar boas práticas para reduzir os riscos aos colaboradores.
Produção
Siqueira aponta que algumas empresas sofrem com a redução de demanda, como as que fornecem alimentação pronta e coletiva para outras indústrias. “Se essas foram impactadas com o decreto, então as fornecedoras tiveram queda significativa na demanda e no faturamento”, pontua.
Por outro lado, o empresário lembra o aumento da demanda nas primeiras semanas. “No início, houve toda uma euforia de estocar alimento. Houve faltas pontuais no supermercado, como o ovo, até pela própria mudança alimentar, as pessoas estão comendo mais em casa. Mas é um produto que não dá pra aumentar a fabricação de uma semana para outra, tem que alojar aves, tem a criação, todo um processo que antecede produção”, detalha o presidente do Sindialimentos.
Apesar do abastecimento do ovo já estar normalizado, o preço aumentou um pouco, segundo Siqueira. Ele reforça que o custo da produção aumentou com a elevação de preço de milho e soja, em uma tendência de alta que já vinha desde o início do ano e se agravou em março.
Uma das preocupações nesse momento do segmento é em relação à inadimplência. Siqueira afirma que as empresas estão mais cautelosas ao efetuar vendas pelo maior risco. “Esse período também tem reforçado a importância de as empresas encararem esse processo digital como prioridade. A gente percebe que quem tem canais de venda digital, estrutura de entrega, tem se saído melhor”.
Aglomeração
A Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa) também continua em plena atividade, para o varejo e atacado. Segundo o presidente da Ceasa, Maximiliano Quintino, a oferta de produtos segue ritmo normal e estão sendo tomadas diversas ações de prevenção contra o novo coronavírus, como a intensificação da higienização de áreas comuns, a disponibilização de mais lavatórios e a limpeza de todos os veículos que entram no local.
Aponta que, em média, houve uma redução de 10% a 15% no número de pessoas que transitam na Central, entre funcionários, permissionários e consumidores. “Ainda assim, é difícil manter o distanciamento em momentos de maior fluxo. Mas a gente orienta a manter a distância, a usar máscara”, dizQuintino.
Ele ressalta que houve uma redução no fluxo de clientes para compras no varejo, que buscam a Ceasa por preços mais baixos. “As pessoas estão tentando vir menos. Se antes vinham duas vezes na semana, agora fazem uma compra maior. Também aumentaram as vendas por telefone e meio eletrônicos”.
Renato Barroso, presidente da Associação dos Usuários da Ceasa Ceará (Assucece) – que representa os permissionários da central -, confirma que a maioria dos permissionários continua trabalhando normalmente para manter o abastecimento. Segundo ele, a demanda total apresentou leve crescimento nas últimas semanas, mas que as compras no varejo diminuíram.
Barroso admite que, mesmo acatando as recomendações da administração da Ceasa e dos cuidados adotados, os permissionários estão cientes do risco que correm ao irem trabalhar. “Estamos fazendo de tudo para minimizar. Eu diria que nós somos alguns dos que estão na linha de frente. Somos responsáveis por manter o abastecimento de alimentos e muita gente não sabe da importância que a Ceasa tem para garantir isso, a logística necessária”, aponta.
Indústria
No distrito industrial de Maracanaú, a maioria das empresas são de segmentos essenciais e continuam em operação, segundo o vice-presidente da Associação Empresarial de Indústrias (Aedi), Victor Praça. Ele ressalta que a principal preocupação com a saúde dos colaboradores se concentra na hora das refeições. “Estão tomando os devidos cuidados, com uso de máscara, higienização das mãos, divisão do quadro em grupos na hora das refeições”, ressalta.
Ele acrescenta que a situação das empresas essenciais que continuam trabalhando é mais confortável em relação às demais, uma vez que conseguem manter pelo menos parte do faturamento. “Já as empresas fora da cadeia, que estão paradas, têm preocupação em como vai ser o depois, pois tudo indica que, quando tudo passar e a coisa voltar a uma certa normalidade, os volumes de produção não vão ser os de antes”, diz.
Adaptação
Carlos Roberto Alves também está saindo para trabalhar normalmente. O supervisor do setor de envase da Cigel revela que está tentando manter a motivação alta neste período. Ele ainda ressalta que as mudanças no trabalho dizem respeito apenas aos procedimentos que precisam ser cumpridos para prevenir a contaminação pela Covid-19.
“O mais desafiador é o fato de não podermos visitar outros ambientes de diversão e também o de chegar em casa e ter que fazer todo processo de segurança e higienização antes de ir falar com a família, isso mexe muito com o psicológico da gente”, lamenta Carlos Roberto.
Sobre contribuir com o fornecimento de itens essenciais, como o álcool em gel, ele diz sentir orgulho. “Me sinto muito realizado, com uma sensação de dever cumprido. Preciso motivar um grupo de 58 funcionários nos turnos do dia e da noite, então preciso estar muito bem e equilibrado para dar suporte e exemplo para a equipe”.
O diretor da Cigel, Paulo Gurgel, aponta que a venda de álcool em gel, em março, foi cinco vezes maior que o volume comercializado em igual mês do ano passado. “Tínhamos uma demanda de 40 toneladas no primeiro trimestre de 2019, e fomos para 500 toneladas”, destaca. Para atender à demanda, a indústria adaptou as embalagens do produto para frascos mais disponíveis no mercado.
Químicos
O presidente do Sindicato dos Químicos do Ceará (Sindquímica-CE), Marcos Soares, aponta que a maioria das empresas do segmento estão em atividade, especialmente as de limpeza, cosméticos ligados a higiene pessoal e de medicamentos. Segundo ele, a produção local abastece não só o Ceará, mas também as regiões Norte e Nordeste.
“Todas elas estão com suas produções normais, mas com todas as proteções devidas, utilizando EPIs (Equipamento de Proteção Individual). Nós já somos regulamentados pela Anvisa, então temos conhecimento dos procedimentos”, esclarece.
Ele aponta que, desde o início da pandemia no Estado, as empresas se colocaram à disposição para atender as demandas da Prefeitura, da Secretaria de Saúde e da população. “Nós fizemos essa articulação e nos colocamos à disposição. Com isso, estamos trabalhando diuturnamente e algumas empresas até no sábado para atender”, revela.
Soares afirma que parte do setor que trabalha com plástico está parada. Apenas as que atendem à indústria metal mecânica, que produz para hospitais e clínicas, em funcionamento amparado pelo decreto estadual. Outras empresas de maquiagem pararam de fabricar seus produtos naturais e migraram para a produção de álcool em gel.
Já as empresas do segmento de tintas estão em quarentena, segundo o presidente do Sindquímica, vendendo apenas o estoque. “Nós até fizemos uma reivindicação para trabalharmos com pelo menos 50% do efetivo, tomando todos os cuidados necessários, porque o estoque já está baixando e nossos concorrentes de estados como a Bahia não estão parados”.
Diário do Nordeste