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36 cidades têm taxa de letalidade maior que Fortaleza
Índice representa percentual de pessoas que morreram pela doença em relação ao número de infectados. Entidade avalia que números mais altos são influenciados pela demora na liberação de diagnósticos e pela subnotificação
Redação
Taxa de letalidade da Covid-19 no município de Iguatu é de 14,3%, com 28 casos e 4 óbitos - Foto: Honório Barbosa

Dos 46 municípios cearenses que já registraram óbitos por Covid-19, 36 apresentam taxa de letalidade maior que Fortaleza, embora a Capital concentre o maior número de casos confirmados e mortes no Ceará. A taxa se refere ao percentual de pessoas que morreram pela doença em relação ao número de infectados. As informações se baseiam em dados coletados na plataforma IntegraSUS, da Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), na manhã desta quarta-feira (29), quando a doença atingia 139 das 184 cidades do Estado.

Conforme o recorte da reportagem, a taxa de letalidade de todo o Estado é de 6,01%, com média de nove óbitos por dia. As vítimas tinham média de idade de 68 anos, e uma em cada quatro tinha alguma comorbidade, como diabetes ou doenças cardiorrespiratórias. Em Fortaleza, a taxa é de 6,06% – foram 5.511 confirmações e 334 mortes. Oito cidades apresentam 100% de letalidade: Ibaretama, Miraíma, Salitre, Solonópole, Viçosa do Ceará, Ararendá, Cariús e Farias Brito. Ou seja, cada uma confirmou um caso, mas também um óbito. Umirim e Capistrano têm índice de 50%. Em Independência, Ipueiras e Amontada, um em três infectados morreu pela doença do novo coronavírus, ou seja, tiveram letalidade de 33,3%.

Das 36 cidades com maior taxa de letalidade, 31 estão no interior do Estado. Cinco fazem parte da Grande Fortaleza: São Luís do Curu (20%), Eusébio (9,34%), Pindoretama (9,09%), Maracanaú (8,5%) e Maranguape (7,35%).

O vice-presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems), Rilson Andrade, explica que, como a taxa é dinâmica tanto pelo número de confirmações quanto pelo de óbitos, dois fatores podem influenciá-la: a demora na liberação dos resultados de exames e a subnotificação da doença.

“Tem municípios em que, se for confirmado mais um caso, a letalidade vai cair pela metade. Não vejo essa diferença por falta de estrutura de atendimento, mas pela demora. A subnotificação em alguns lugares também interfere, então algumas cidades podem ter notificação baixa. Não estamos culpabilizando os municípios, porque alguns têm até postos sentinela e busca ativa, mas é a população que, muitas vezes, não procura as unidades de saúde”, descreve Rilson.

Caucaia, que tem o segundo maior número de casos confirmados no Estado, é dono da terceira menor taxa de letalidade: 3,64%, atingindo 10 dos 275 infectados. Os menores índices ficam em Itaitinga, que teve uma morte e 41 casos confirmados (2,38% de letalidade), e Aquiraz, com uma morte para 60 confirmações (1,67% de letalidade).

Para auxiliar nas notificações, o Ministério da Saúde informou que destinaria 186 mil testes rápidos ao Ceará, em cinco lotes. No entanto, segundo Rilson Andrade, há municípios que receberam apenas uma remessa e aguardam outra para os próximos dias. “Alguns também se dispuseram a comprar esses testes, mas infelizmente não encontram ou enfrentam preços abusivos, acima das condições de pagar”, conta.

Em entrevista coletiva no dia 14 de abril, o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, revelou apreensão quanto à demora da população em buscar o serviço de Saúde. “Nos hospitais públicos, as pessoas estão retardando a busca pelo sistema de Saúde. É importante que elas procurem rápido esse sistema”, destacou.

Para o interior, o gestor defendeu a necessidade de apoio das 184 Prefeituras e do trabalho dos agentes comunitários de saúde na orientação da população, principalmente na faixa com menor renda per capita. Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas (EMAp/FGV) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) destacou que 170 cidades do Estado são socialmente vulneráveis aos impactos do novo coronavírus na saúde.

Criatividade

Segundo Rilson Andrade, do Cosems, os profissionais tentam quebrar a “teimosia” da população do interior a procurar atendimento quando surgem alguns sintomas. “Alguns têm receio tão grande que se trancam em casa, doentes, e acabam nem sendo notificados”, relata. Para o representante, as Pastas da Saúde no interior passam pela “hora da criatividade”.

“Como o recurso ainda é muito pequeno em vários municípios, cada um tem trabalhado como pode a orientação e fiscalização. Temos feito divulgação nas mídias sociais, com ajuda dos próprios servidores, a distribuição de impressos nas ruas e abordando quem está em comércios que podem funcionar”, detalha.

Em nota, a Sesa considera que o Ceará possui uma estrutura de saúde “bem distribuída” pelo interior do Estado, com Hospitais Regionais em Juazeiro do Norte, Sobral e Quixeramobim, além de hospitais-polo em cidades estratégicas, como Maracanaú, Caucaia, Itapipoca, Crateús, Tauá, Iguatu e Icó.

A Pasta reforça que essas unidades receberam incremento de leitos de enfermagem e de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) para o enfrentamento à Covid-19. Ao todo, o Estado dispõe hoje de 465 leitos de UTI e 1.553 enfermarias exclusivas para assistência à doença. Destes, 142 UTIs adulto e 980 enfermarias estão distribuídas nas macrorregiões do Cariri, Norte, Sertão Central e Vale do Jaguaribe.

Segundo o governador Camilo Santana anunciou nesta terça (28), o Estado também comprou mais 50 respiradores para implementar novas UTIs. “Estamos trabalhando para o internamento precoce. É preciso internar as pessoas mais cedo para que elas não cheguem tão graves a uma unidade hospitalar e já necessitem de uma UTI ou de um respirador”, afirma Camilo.

Diário do Nordeste

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