O pai, Manuel Cavalcante, faleceu em decorrência da infecção de Covid-19. Na foto, Antônia e Manuel comemora o aniversário de 38 anos da filha. - Foto: Arquivo Pessoal
Quase duas semanas após darem entrada no hospital por infecção de Covid-19, a doméstica Antônia Palhares Calvacante, 62, e a filha Sandra Regia Palhares Cavalcante, 38, receberam alta nesta terça-feira (16), no Hospital São Lucas, no município de Crateús. As duas são do grupo de risco da doença — Sandra tem Síndrome de Down; e Antônia, idosa, tem histórico de pressão alta e se recupera de uma cirurgia para reduzir problemas de circulação.
“Foi um alívio receber elas em casa depois de tanto tempo”, relata o empresário Alessandro Cavalcante, 41, filho de Antônia. Ele, que reside em Tauá, a 137 km de Cratéus, acompanhava o estado da família à distância desde o início do isolamento social. Mas, em abril, o aposentado Manuel Alves Cavalcante, 78, pai do empresário, manifestou sintomas respiratórios e foi internado. Manuel faleceu por complicações causadas pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) no início deste mês.
Para cuidar da documentação relativa à morte do pai e acompanhar a saúde de mãe e irmã, Alessandro se mudou provisoriamente para perto da família, já que Manuel dividia a casa com Sandra e Antônia, ambas no grupo de risco para a doença. “Foi tudo muito rápido. Em um dia eu estava enterrando o meu pai, e no outro estava dando entrada na internação da minha mãe e da minha irmã”, relembra.
Na casa em que Antônia e Manuel moravam, além da filha Sandra, residiam um irmão e um sobrinho de Alessandro. Por isso, além da preocupação com mãe e irmã, o empresário temia ainda que o irmão, diabético, também contraísse o novo coronavírus. “Estavam todos em isolamento. Minha mãe e irmã não saíam de casa fazia mais de dois meses. A gente suspeita que tenha entrado com o meu sobrinho, que trabalhava no Exército. Ele deu positivo para Covid-19 e foi assintomático”, conta.
Cuidados
Mais perto da família, o empresário visitou a residência da mãe com frequência, levando alimentação e medicamento prescrito por um médico para tratar o avanço da doença. Em cada ida, todas as precauções de saúde. “Ia sempre de máscara e nunca entrava em contato com elas diretamente. Meu sobrinho, que mora com eles e já tinha desenvolvido a doença, era quem fazia esse contato, ele ficava na linha de frente dos cuidados. Quando foi preciso levar elas para o hospital, fomos em carros separados para evitar contaminação”, aponta Alessandro.
Antônia e Sandra deram entrada no Hospital São Lucas na tarde do dia 3 de junho, após oito dias de avanço dos sintomas. A filha já chegou para atendimento com falta de ar. “Nós fizemos o exame da minha irmã para saber como estava a situação dela. O pulmão estava 55% afetado”, conta o empresário.
O cuidado da equipe com mãe e irmã foram o diferencial para a melhora. “Eu conversei com o médico. Pedi para minha mãe e a Sandra ficassem juntas na mesma enfermaria. Se elas fossem separadas, minha mãe ficaria preocupada e a Sandra também. A equipe atendeu muito bem o meu pedido, foram muito solícitos”, agradece.
Durante a internação, o acompanhamento das duas foi feito por telefone, diretamente para o número de Alessandro. Era ele a ponte de informações entre a unidade de saúde e o restante da família, que aguardava a melhora de mãe e filha. “Eles me ligavam sempre, todo o dia, para dar as atualizações. Eu fiquei de receber e passar para todo mundo, para evitar que eles ficassem se deslocando”, recorda.
Celebrar
A preocupação deu lugar à tranquilidade com a liberação da família. “Eu corri o risco de perder os três no mesmo período. Minha família era seis pessoas, vão ficar só três agora?”, conta Alessandro, emocionado.
Após a alta, mãe e filha se recuperam em casa e estão estáveis. Mesmo que já tenham desenvolvido a doença, por recomendação médica elas permanecem em isolamento doméstico pelos próximos 30 dias. “Elas estão muito cansadas e com a imunidade muito baixa, aí o médico pediu para evitar que gente venham aqui visitar”, explica Alessandro.
Agora, a família prepara a festa de aniversário das duas, que completam um novo ano de vida nos próximos dias. “Eu passei nove dias de tempestade. Agora que tudo passou, é bola para frente. Minha mãe ainda está meio afetada por causa do luto do meu pai mas a gente conversou e vimos que ele iria querer festa. A gente tem que celebrar a vida. Se deus deu a oportunidade de retornar, por que não celebrar?”, conta.
Diário do Nordeste