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113 anos de Juazeiro do Norte: relembre a história do jornal que incentivou a independência da cidade
O Rebate, jornal pioneira da cidade, incentivou a emancipação de Juazeiro durante os anos de 1909 e 1911
Cícero Dantas
Primeira Edição do jornal O Rebate estampou a imagem do Padre Cícero na capa. Foto: Reprodução

Juazeiro do Norte completa, nesta segunda-feira (22), 113 anos de emancipação política. Era 22 de julho de 1911 quando a Assembleia Legislativa do Ceará, por meio da Lei 1.028, aprovou o projeto que elevou Juazeiro à categoria de vila independente. Porém, a aspiração pela separação política com o Crato surgiu anos antes e teve o jornal “O Rebate” como tribuna para a tese de separação com o município vizinho. 

O periódico circulou pela primeira vez em 18 de julho de 1909, para rebater questionamentos feitos por um outro jornal, o “Correio do Cariry“, da cidade do Crato.  Entre seus redatores estavam Floro Bartolomeu e o padre Alencar Peixoto. O jornal circulou por dois anos e foi criado com a missão de comandar a emancipação política de Juazeiro do Norte. Além do ato político, O Rebate inaugurou a imprensa na maior cidade do interior do Estado do Ceará.

 

Movimento emancipacionista 

O movimento emancipacionista cresceu no então povoado de Juazeiro, após o pedido de independência ser negado por duas vezes pelo coronel cratense Antônio Luiz, em 1909 e 1910.  Um crime ocorrido no Crato era transformado, pelos redatores juazeirenses, em produto de negligência das autoridades locais. O aumento da criminalidade e o avanço da impunidade no Crato e no Cariri estavam ligados, para O Rebate, às omissões e desvios políticos cometidos pelo coronel do cratense.

Após a segunda negativa, em 1910, o jornal convocou o povo às ruas. Em 30 de agosto de 1910, o povoado deu seu grito de independência. Na época, a data ficou conhecida como o dia da libertação. O até então Distrito se rebelou contra a cidade sede e utilizou da imprensa para difundir os anseios de um grupo que buscava proclamar a independência da localidade.

Tela do artista plástico Francisco Mattos representando o comício no qual Juazeiro dava seu grito de independência. Foto: Reprodução

O jornal, aos poucos, foi alimentando o sentimento emancipacionista no povoado. Seja por leituras em espaços públicos ou nas escolas. A memorialista Amália Xavier de Oliveira, em seu livro O padre Cícero que eu conheci, narrou a orientação que sua Mestra Isabel da Luz deu aos estudantes naquele período: “Não deveriam mais escrever ‘Juazeiro, povoação do Crato’ e sim, ‘Vila de Juazeiro’.

Juazeiro havia declarado sua independência política mesmo sem o aval dos poderes estadual e municipal. Uma das edições do O Rebate, publicado logo após o ato de 30 de agosto, foi afirmado que: “o povoado não reconheceria mais o coronel Antônio Luiz como seu chefe político, deixaria de pagar impostos municipais à Câmara cratense e lutariam até a morte pela liberdade de Juazeiro”.

O jornal O Rebate, a partir de então, se tornou o porta-voz da campanha emancipatória. As discussões entre cratenses e juazeirenses foram protagonizadas semanalmente a cada edição. Nem mesmo as festividades de final de ano, de 1910 e 1911, não proporcionaram uma trégua entre os representantes de Crato e Juazeiro. O embate entre os jornais manteve-se ativa e ganhou status de alerta máximo na região.  

Em Juazeiro, rumores que Antônio Luiz utilizaria da força policial para cobrar os impostos municipais criou um ambiente de apreensão e incerteza. Enquanto o Correio do Cariry publicava semanalmente seus artigos que “De água abaixo irá o Juazeiro”, O Rebate respondia que “De água abaixo, não irá o Juazeiro”. 

Edições do Correio do Cariry e O Rebate de 29 de janeiro de 1911. Foto: Reprodução

 

Pedido de paz e emancipação 

O receio de um conflito armado entre Crato e Juazeiro foi fomentado nas primeiras semanas de 1911. Enquanto o jornal cratenses apresentava Juazeiro como uma nova “Sodoma e Gomorra”, a cidade da perdição; o periódico juazeirense era enfático: “O Juazeiro não será dominado pelo Crato, seja esse ou outro qualquer chefe; esta é que é a verdade nua e crua!”, anunciava. 

Coronéis de municípios próximos buscaram alimentar um discurso de paz entre as duas localidades, mas não obtiveram sucesso. Porém, após uma ameaça de morte dirigida ao padre Alencar Peixoto, comerciantes cratenses entraram em cena a fim de evitar o uso do bacamarte. Uma comitiva do Crato se dirigiu à casa do padre Cícero, em fevereiro de 1911, onde o acordo de paz foi firmado.

Após a reunião, a discussão entre O Rebate e Correio do Cariry chegou ao fim, e foram anunciadas nas páginas dos dois jornais. Cinco meses depois do acordo de paz firmado entre os dois povos, em 22 de julho de 1911, finalmente Juazeiro conquistou sua independência política pela Assembleia Legislativa do Ceará. 

O Rebate encerrou suas atividades meses depois, em 3 de setembro de 1911. Durante sua breve história, suas páginas concentraram um discurso em defesa da emancipação de Juazeiro da cidade do Crato, seja com a ideia de desenvolvimento econômico local, seja pela força do seu principal líder, o padre Cícero.

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