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Há quase 50 anos Dr. Geraldo Menezes Barbosa escrevia crônica sobre a transposição do São Francisco
O site Miséria obteve acesso a cópia da crônica é publica neste domingo (23).
João Boaventura Neto
Há quase 50 anos Dr. Geraldo Menezes Barbosa escrevia crônica sobre a transposição do São Francisco
Dr. Geraldo Menezes Barbosa (Redes sociais)

No dia 26 de janeiro de 1973 o Dr. Geraldo Menezes Barbosa apresentava a crônica ‘A Sangria do Grande Rio’ em alusão à transposição do Rio São Francisco.

O site Miséria obteve acesso a cópia da crônica, por meio do radialista João Carlos Barbosa, o Joca, sobrinho de Geraldo, e disponibiliza na íntegra abaixo.

A Sangria do Grande Rio

Geraldo Menezes Barbosa em 26 / 1 / 73

Numa publicação feita há quase um século passado, o escritor brasileiro de grande renome, Euclides da Cunha, autor da mais bela e robusta obra literária do País, Os Sertões, referindo-se ao drama das secas do Nordeste, defendeu o seguinte ponto de vista:
“A derivação das águas do Rio São Francisco para os tributários do Jaguaribe, no Estado do Ceará, levando perpetuamente à natureza torturada do Norte os alentos e a vida da natureza maravilhosa do sul, é um programa estonteador, mas único, improrrogável e urgente.”

Euclides da Cunha, além de grande estudioso dos problemas geográficos e humanos do Brasil, era engenheiro e, como mestre do assunto, verificou que boa parte do Nordeste seria salva com o desvio’ de um braço do Rio São Francisco rumo às terras cearenses.
Naquela mesma época contam, em conversa com os seus romeiros, o padre Cícero teria dito que nós os juazeirenses haveríamos de ver algum dia o grande rio correr por essas bandas do Cariri.

Agora o presidente Garrastazu Médici ordena o início da construção de uma das maiores barragens do mundo, a de Sobradinho, pouco acima de Petrolina e Juazeiro da Bahia, em que o grande rio da integração nacional terá parte de suas águas represadas, numa extensão de 40 léguas, subindo o nível de sua superfície líquida para muitos metros. A barragem será de 9 quilômetros de extensão.

Profundamente interessado em dar provimento a uma série de medidas redentoras do Nordeste, o presidente Médici parece querer confirmar as suas palavras, no ano de 1970, na histórica reunião do Conselho Deliberativo da Sudene, em Recife, quando afirmou:
“Com a ajuda de todos os brasileiros e com a ajuda de Deus, o Nordeste, afinal, haverá de mudar.

Os trabalhos da barragem de Sobradinho irão exigir o esforço de dez mil trabalhadores que irão barrar, mais uma vez, o “velho chico”, numa formidável iniciativa de aproveitamento de sua força. E esse represamento bem aproxima da realidade os prognósticos e afirmativas de Euclides da Cunha e do padre Cícero, na tentativa ciclópica de uma enchente permanente das águas barrentas do São Francisco, invadindo os tributários do Jaguaribe.

Políticos e técnicos já lançam suas afirmações, pela imprensa, dessa nova bravura nacional. Acreditam que poderá ser aberto um canal gigante acima da cidade de Petrolina, cortando o miolo do Pernambuco, baldeando pequenos rios e riachos, rumando para Ouricuri, Bodocó, atravessando a Serra do Araripe por um túnel não menos gigante até atingir a cidade de Nova Olinda, no Ceará, quando o São Francisco invadiria, em plena força, a bacia do Rio Cariús, em águas borbulhantes. Dali do Cariús essa fortuna de líquido iria vazar o riacho Machado, avançando depois pelo Rio Salgado até chegar no leito do Jaguaribe, para nunca mais secar.

Com esse plano, seriam beneficiados com irrigações e pescados os municípios cearense de Santana, Farias Brito, Várzea Alegre, Crato, Juazeiro, Jucás, Cariús, Aurora, Lavras, Cedro, Iguatu, Icó, Orós, Jaguaribe, Limoeiro do Norte, Russas e Aracati.

Aproveitadas essas áreas com as bacias de irrigações, provavelmente no Ceará nunca mais se falaria, em seca e as terras fortes e valentes do nosso querido sertão poderiam produzir até duas safras por ano, sem contar com os estímulos de plantações de cajueiros, postos em prática pelo dinamismo do governo César Cais de Oliveira Filho.

Junte-se a tanto, a outra margem de benefícios adquiridos pelas áreas do Estado de Pernambuco, por onde as águas cheias de vida iriam atravessar.
Esperemos, portanto, os resultados da barragem do Sobradinho e da capacidade de volume dágua a que se submeterá o São Francisco na mais brava demonstração de arrojo da nossa engenharia.

Tudo indica que algo de monumental virá até nós, sobretudo tendo em vista que a idéia tem mais de um século de lançada e exatamente agora, quando estamos numa fase de decisões profundas, em que o Brasil, pela firmeza do seu Presidente da República e pelo novo destino a que se propõe seguir o Nordeste, esse milagre poderá suceder em tempo recorde para a suprema ressurreição dos que ainda choram os horrores das secas periódicas.

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