Maria Silva e Irene Santos, moradoras do bairro Jardim Gonzaga. Foto: Bruna Santos
As ruas do bairro Jardim Gonzaga, em Juazeiro do Norte, guardam histórias que renderiam uma coletânea de contos. Irene Santos e Maria Silva, moradoras do local e grandes amigas há mais de 4 anos, certamente estariam nas páginas com marca-textos aos olhos dos leitores. Elas compartilham um laço que foi moldado por desafios profundos, especialmente na luta contra o câncer de mama.
“Quando a gente descobre, a gente fica sem chão”
Irene, 63 anos, enquanto sorri, reflete sobre sua história marcada por períodos difíceis. Antes de enfrentar o câncer, ela lidou com anos de depressão. A descoberta da doença a abalou ainda mais, porém, segundo ela, levou a um novo entendimento sobre o que é viver. “Quando a gente descobre, a gente fica sem chão”, confessa.
Vindo de um círculo de conhecidos com câncer de mama, o que a fez suspeitar de um possível câncer de mama foi o autoexame, realizado durante o banho, todos os meses.
“Eu fiz dois dias, não apareceu, no dia três também não, mas já no quarto, aconteceu. E eu contei pra minha vizinha, ela disse ‘não é, porque tu estava perto de sentir aqueles tempos e tudo’. Mas eu disse: não, eu estou sentindo e eu vou atrás pra eu saber disso aí, porque antes de mim, muitos já tiveram”
Com determinação, e apesar das inseguranças, Irene se apoiou na família e na rede pública de saúde para iniciar o tratamento. Foram mais de 60 radioterapias, além das dezenas de sessões de quimioterapia e medicações. “Essas me deram uma relaçãozinha muito chata, mas faz parte do que é o tratamento, tem que ser acompanhado, certo?”.
Para ela, o acolhimento no Hospital São Vicente se tornou um divisor de águas. “Fui muito bem recebida lá. Me senti acompanhada”. Após o diagnóstico e durante todo o tratamento, Irene manteve-se ativa. “A luta de casa continuei sempre, se eu fosse só parar e pensar, eu nem agiria,” explica. Essa determinação, segundo ela, foi crucial para não permitir que o medo a dominasse.
Hoje, Irene, natural de Santana do Cariri, mas juazeirense de coração, diz ter olhar mais atento à saúde, e faz questão de falar com todos sobre a necessidade de prevenção e autocuidado. “Sempre esteja atenta e não durma no ponto, porque é de onde a gente não espera que saia”, aconselha.
Para as mulheres que enfrentam o câncer, sua mensagem é de esperança e força. “A gente sempre tem que estar em observação, sempre se preparando, se olhando, vigiando seu próprio corpo. Não desanimem que a esperança é a última que morre. Quanto mais rápido você descobrir melhor é o tratamento”, conclui.
“Quando saí do hospital, foi no meu aniversário, um presente que eu nunca vou esquecer.”
Cerca de quatro anos depois da sua amiga Irene, Maria Silva descobriu a doença durante uma consulta de rotina. “Fui fazer prevenção e a médica examinou. Senti um caroço debaixo da axila, mas ela me disse que não era nada”, relata. Após a suspeita, ela decidiu realizar uma mamografia. Dias depois, com exames em mão, foi confirmada a presença de um câncer de mama inicial.
O impacto da notícia na família de Maria foi profundo, gerando preocupação entre suas oito filhas. “Elas ficaram desesperadas. Se tem um caso na família, todas ficam atentas”, afirma. Todo o tratamento foi realizado em Barbalha, no Hospital São Vicente. No processo, ela passou por sessões de quimioterapia e radioterapia. Ao detalhar a experiência no hospital, seus olhos começaram a marejar.
“Fui encaminhada rapidamente para Barbalha e fiz a cirurgia em menos de seis meses. Entrei na sala de cirurgia sem saber o que esperar. A cirurgia ocorreu, mas o período pós-operatório foi difícil, e eu vomitava constantemente. Para mim, tudo parecia um sonho. Quando saí do hospital, foi no meu aniversário, um presente que eu nunca vou esquecer.”
Após a cirurgia, Maria continuou a fazer acompanhamento médico mensalmente no sistema público de saúde. Segundo ela, não tem um dia em que sua família não a acompanhe nas consultas e exames de rotina. O período difícil também alertou suas filhas para adotarem um estilo de vida saudável, com a adoção do autoexame das mamas todo mês, além do acompanhamento médico.
Curada, junto com Irene, ela enfatiza a importância da prevenção, alertando as mulheres a não ignorarem os sinais do corpo. “O câncer é sério, e o que aprendi é que não se pode descuidar da saúde. É preciso ir atrás do que está sentindo. Se eu não tivesse insistido, não sei o que seria de mim hoje”, alerta.
A amizade entre Irene e Maria se fortaleceu ao longo dessas experiências. Hoje, ambas ajudam a conscientizar mulheres sobre o câncer de mama, relatando suas experiências. “A esperança é a última que morre. Enquanto há vida, é preciso lutar”, destacam as amigas.