Após jogo entre Fortaleza e Ceará, torcedores quebraram cadeiras da Arena Castelão. - Foto: Thiago Gadelha
O mesmo estádio que foi palco de uma festa histórica também recebeu cenas de conflito e violência. A Arena Castelão então viu assentos serem arremessados no campo após o Clássico-Rei do último domingo (10). O setor alvo foi o Norte, espaço reservado para a torcida do Ceará e que pode gerar penalização ao clube alvinegro para o decorrer da Série A do Brasileiro.
Segundo o promotor de Justiça André Araújo Barbosa, coordenador em exercício do Nudtor (Núcleo de Defesa do Torcedor) do Ministério Público do Estado do Ceará (MP-CE), o prejuízo parcial nas arquibancadas foi de 350 cadeiras danificadas, o que resultaria em um montante estimado em R$ 122.500,00 – cada peça custa R$ 350. O número não foi confirmado pela Secretaria do Esporte e Juventude (Sejuv), que respondeu via assessoria que “a vistoria após o jogo entre Fortaleza e Ceará ainda está sendo finalizada”.
Vale ressaltar, todavia, que o Fortaleza era o mandante da partida, mas como as ações ocorreram no lado alvinegro, é o arquirrival que necessita arcar com a manutenção do equipamento através do Documento de Arrecadação Estadual (DAE). O pedido será emitido pelo Ministério Público do Estado do Ceará (MP-CE) ao término da catalogação do estádio.
Além da despesa, o Ceará também responderá com possível perda de mando de campo e multa se for denunciado ao Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). As reverberações são cabíveis porque o árbitro principal do jogo, o paulista Flávio Rodrigues de Souza, relatou tudo em súmula e responsabilizou exclusivamente o Vovô.
“Após o término da partida, a torcida do Ceará s.C (sic) entrou em confronto contra a torcida adversária e policiamento, arremessando cadeiras e objetos contra ambos”, escreveu na súmula.
A pena ao clube visitante está prevista inclusive no Código Brasileiro de Justiça Desportiva. O inciso 2 do artigo 203 prevê que a “desordem, invasão ou lançamento do objeto” pode ser aferido à entidade adversária, com multa de R$ 100 a R$ 100.000,00 e proibição do mando por até 10 jogos.
Tumulto
O conflito na Arena Castelão ocorreu seguido do apito final. Alguns torcedores arremessaram o encosto das cadeiras no gramado e, ao serem cercados por agentes de segurança, também os agrediram com os objetos.
A manifestação foi contida por policiais do Batalhão de Choque, que usaram balas de borracha e bombas de efeito moral para dispersar o grupo de vândalos. Comandante do Grupo de Policiamento de Eventos e que esteve à frente da segurança no Clássico-Rei, major Landim informou que uma investigação foi instaurada para identificar o início da confusão e os responsáveis.
“Vamos identificar quem começou para poder responsabilizar o infrator de forma cível. É triste porque houve um planejamento grande envolvendo a Prefeitura e os demais órgãos para proporcionar a festa. É até uma oportunidade boa para fazer a festa e ter repercussão internacional com os mosaicos, mas acontecem essas cenas na arquibancada que atrapalham tudo”, explicou Landim.
O trabalho vai envolver o monitoramento das câmeras do estádio. A expectativa é que o torcedor que incitou os demais seja detido, assim como ocorreu com o que invadiu o campo aos 47 do 2º tempo para criticar o técnico alvinegro Adilson Batista.
Histórico
O último Clássico-Rei da temporada registrou a presença de 46.093 espectadores, o 4º maior público do confronto na década. As multidões servem como sinônimo da festa cearense, no entanto também já proporcionaram grandes conflitos de torcidas.
Em 2015, por exemplo, a final do Campeonato Cearense que teve título do Fortaleza com um empate nos minutos finais foi ofuscada por uma confusão generalizada envolvendo tricolores e alvinegros.
Torcedores dos dois clubes invadiram o campo e brigaram no círculo central, em episódio que teve como principal consequência um maior rigor na segurança. E a cada confusão, cadeiras são quebradas e não repostas no estádio.
O fenômeno, então, gera uma redução gradual da capacidade da Arena Castelão. O que já foi 63.903, capacidade máxima do Gigante da Boa Vista após as reformas para a Copa do Mundo de 2014, tornou-se apenas 52.550 pessoas por conta dos prejuízos.
Para amenizar o impacto e acentuar a possibilidade de receita, as diretorias de Leão e Vovô se uniram para restaurar o encosto de quatro mil cadeiras no início de 2020, o que gerará uma arrecadação a mais de R$ 6 milhões.
A situação despertou um projeto dos times que será ampliado para discussão no futuro junto das torcidas organizadas. A iniciativa visa diminuir o número de assentos nos lados em que ficam os respectivos torcedores, os forçando a acompanhar o jogo em pé como nas antigas gerais.
Diário do Nordeste