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Clubes terão que se adaptar ao futebol sem torcida no estádio
No futebol europeu, jogar sem torcida já mudou números dos mandantes, e o Brasil viverá essa realidade quando o Brasileirão voltar, em meados de agosto
Redação
O Castelão, acostumado a receber grandes públicos, estará vazio no retorno do futebol Foto: KID JUNIOR

A pandemia do novo coronavírus transformou o mundo, as relações e forma de viver em sociedade. Todos os setores sofrerão alguma adaptação ao retornarem e no futebol não é diferente.

Além das medidas sanitárias e protocolos médicos durante treinos e jogos, a nova realidade do futebol será sem torcida e de portões fechados, pelo menos até o mundo estar seguro para que as arquibancadas estejam ocupadas como antes. Assim, quando o futebol brasileiro retornar, os clubes terão que se adaptar a esta nova realidade, principalmente aqueles mais populares, com torcidas gigantescas, já que não terão mais o importante apoio.

Neste contexto estarão os três grandes clubes da Capital, Ceará e Fortaleza, que disputam a Serie A e o Ferroviário, que jogará a Série C. A neutralidade do estádio mudará a característica do jogo, já que cientificamente está provado que o time da casa, com apoio do torcedor, tem mais probabilidade de vitória, pela influência psicológica.

No Campeonato Alemão, o desempenho dos times da casa caiu quase 20%, com estádios vazios. A porcentagem leva em conta as seis rodadas desde o retorno da competição, em 16 de maio. Nos 54 jogos da nova realidade, quem atua longe de casa está levando ampla vantagem. Os visitantes venceram 27 vezes, contra apenas 11 triunfos dos mandantes, além de 16 empates. É relevante constatar que os visitantes venceram a metade dos jogos, 50% deles, empataram 30% e perderam apenas 20%.

No Campeonato Espanhol, que retornou no último final de semana, os mandantes venceram apenas 4 vezes em 10 jogos, com as vitórias dos times da casa caindo para 40%. A média geral de vitórias do mandante do campeonato é 48%, contra 25% dos visitantes. Na rodada, os visitantes venceram três vezes, aumentando para 30% o número de vitórias. Ou seja, mesmo os números da La Liga não sendo tão impactantes quanto da Alemanha, ainda é uma perda estatística para os mandantes.

Já em duas rodadas do Campeonato Português, os visitantes venceram 6 vezes em 18 partidas realizadas. O número de vitórias dos times da casa foi o mesmo: 6. Na média do campeonato português, os times da casa vencem (39% dos jogos, contra 34% dos visitantes. Em duas rodadas, os visitantes igualaram as estatísticas antes desfavoráveis.

Brasil

No futebol brasileiro, os Estaduais devem voltar em julho e agosto, com o Brasileirão começando logo em seguida. E como será no futebol brasileiro quando ele começar? Os clubes do Estado na Série A, Ceará e Fortaleza, possuem enormes torcidas que comparecem em peso para apoiá-los, dificultando a vida dos adversários e ajudando nas estatísticas.

Na Série A de 2019, ambos tiveram pontuação acima dos 60% jogando em casa, em levantamento feito pelo Diário do Nordeste. O Ceará foi o clube que proporcionalmente conquistou mais pontos diante do torcedor em comparação aos somados fora de casa. Dos 39 pontos do Vovô, 30 foram conquistados no Castelão, ou seja, 76,9% do total. Número este que coloca o Alvinegro no topo entre as 20 equipes que mais dependem do fator casa ou, podemos dizer também, de torcida. A situação do Fortaleza é um pouco mais equilibrada que a do rival, mas não tanto. Dos 53 pontos tricolores em 2019, 36 foram obtidos também no Castelão, o quer dizer 67,9% do total. No ranking dos times mais dependentes do fator casa, o Tricolor do Pici aparece em 5º lugar.

Impressões

O presidente do Fortaleza, Marcelo Paz, lembrou a supremacia dos clubes mandantes em condições normais de jogo, com suas torcidas.

“A ausência do torcedor no estádio também proporcionará uma diferença gritante. Não há uma previsão, em curto e médio prazo, de jogos com venda de ingressos. Com portões fechados a mudança será direta, já que historicamente os clubes mandantes vencem mais os seus jogos. Esse fator pesará mais para as instituições que possuem torcida presente e usam o fator casa como trunfo. Podemos citar como exemplo a Bundesliga, que voltou com portões fechados e os visitantes têm tido um aproveitamento melhor. Temos muitos times na Série A com torcidas atuantes, então não impactaria apenas para o Fortaleza”, declarou o mandatário tricolor.

Paz levantou outro fator importante em jogos com torcida: a influência do arbitro.

“Além disso, o ambiente sem público influenciará na arbitragem, já que é diferente para o juiz apitar em estádio vazio. Ele pode ter mais tranquilidade para tomar as decisões e ser menos impactado positivamente ou negativamente”.

O presidente do Ceará, Robinson de Castro, afirmou que os jogadores terão que se adaptarem a realidade de jogos sem torcida.

“Claro que vai impactar. É difícil dizer como será o comportamento dos times, mas quem é acostumado a jogar com torcida, como o Ceará, tem alguns efeitos. Cada jogador reage de uma situação diferente, mas vamos nos preparar para isso”.

O Ferroviário, outro representante cearense em um campeonato nacional, a Série C, acredita que o jogo mudará. O presidente Newton Filho, lembra do ambiente do jogo de portões fechados que o time coral fez no Estadual, na vitória contra o Pacajus no PV, no dia 15 de março

“Impacta em muitos fatores, como renda, em todo match day, mas muito no ambiente de jogo. A gente espera que a Série C não ocorra em toda sua totalidade sem torcida, que no decorrer do torneio, com o melhor cenário que a gente tenha gradualmente a volta do público, liberando 5 mil, 10 mil, algo que permita um distanciamento. Será outra realidade que precisaremos nos adaptar. Contra o Pacajus fizemos um jogo de portões fechados pelo Cearense. Já notamos a diferença. O jogo fica mais morno, tem que ser trabalhado isso na cabeça dos atletas. Uma coisa é fazer um jogo isolado e outra é um campeonato inteiro sem público, há um impacto psicológico também”.

Diário do Nordeste

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