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Não é de hoje que os grandes clubes europeus estão de olho nos talentos produzidos no futebol brasileiro. Cada vez mais cedo, eles estão cruzando o oceano. E depois de Vinícius Júnior, Rodrygo e Reinier, se há um nome que muitos apostam que poderá ser o próximo a chegar ao Velho Continente, é o de Kaio Jorge – outra das aparentemente intermináveis joias oriundas da base santista.
De maneira rápida, basta citar que o atacante de 18 anos já igualou uma marca de Neymar, foi comparado a Ronaldo Fenômeno, salvou o Santos em uma difícil estreia de Libertadores e que foi destaque da seleção brasileira no título mundial sub-17. Chega a ser óbvio o interesse de algumas das principais potências da Europa, dentre elas a Juventus, mas existe toda uma história de tomadas certas de decisões que ajudam a explicar como o pernambucano conseguiu se colocar em tal posição.
Pernambuco ficou pequeno
O futebol sempre fez parte da vida de Kaio. Seu pai, Jorge Ramos, foi um jogador profissional pouco conhecido no grande cenário e passou o amor pela bola ao filho. A futura joia santista mal sabia falar e já jogava futebol. O caminho natural foi dar prosseguimento à vocação.
Kaio iniciou sua caminhada no time de futsal do Náutico, mas após conquistar todos os troféus possíveis e empilhar um número até então pouco visto de gols, decidiu trocar o Timbu pelo rival Sport, clube que o pai chegou a defender em 1999. Foi na época em que vestia a camisa do Leão que o pequeno também começou a fazer a transição para os gramados – isso além de jogar na várzea, onde segundo o patriarca da família continuaria evoluindo e aprendendo.
A mesma maturidade precoce que apareceu quando pediu para trocar o Náutico pelo Sport, motivado pelo sentimento de que não conseguia mais evoluir onde estava, voltou a se mostrar presente quando Kaio convenceu os pais a mudarem de vida, apostando em seu sucesso no Sudeste. Esteve perto do São Paulo, mas acabou mesmo no Santos, clube pelo qual sempre demonstrou grande carinho.
Santos, um caso de amor
Kaio Jorge nasceu em 2002, ano em que a dupla Diego e Robinho protagonizou uma espécie de renascimento do Alvinegro da Vila Belmiro no cenário nacional. Mesmo ano também do Penta, conquistado pelo Brasil na Copa do Mundo realizada na Coreia e Japão. Enquanto crescia, o jovem pernambucano ainda viu o Peixe revelar Neymar para o mundo. Mal sabia ele que, um dia, iria trilhar o mesmo caminho.
Não foram necessários mais de cinco minutos de peneira para o jovem convencer o Santos a apostar no seu valor. O desempenho na base mostrou não apenas o poderio para definir jogadas, como atacante mais avançado. Kaio Jorge sempre esbanjou confiança dentro de campo e deu continuidade ao histórico de conquistas santistas nos torneios de base.
“Ele tinha 11 anos, eu era o treinador na final. Eu pedi o tempo contra o São Paulo, jogo estava 1 a 1 e não encaixava. Durante o tempo, Kaio falou para eu mandar jogarem a bola nele: ‘joguem em mim, podem jogar, vou fazer o gol’. No primeiro lance, foi uma coisa até emocionante, ele recebeu, virou e fez o gol do 2 a 1. Fomos campeões e ele foi o artilheiro do Paulista”, disse à Gazeta Esportiva o técnico Índio, que comandou Kaio Jorge no Campeonato Paulista de futsal, em 2013.
Igualando Neymar
Cinco anos depois, o atacante pernambucano igualou um feito que pertencia apenas a Neymar, seu ídolo de infância. Atleta mais jovem no elenco santista que disputou a Copa São Paulo em 2018, com apenas 15 primaveras completadas ele entrou em campo para marcar o terceiro gol nos 3 a 0 sobre o Aliança, do Ceará. Uma década antes, o atual camisa 10 do PSG e seleção brasileira havia feito o mesmo contra o Barra dos Garças, do Mato Grosso.
Desempenhos como os citados, aliados, é claro, às convocações para as seleções de base, fizeram com que o jornal inglês “The Sun” o comparasse a Ronaldo Fenômeno na mesma matéria em que apontava Rodrygo, hoje no Real Madrid, como sucessor de Neymar. A jovem dupla santista, aliás, sempre teve uma boa amizade dentro e fora dos campos.
A primeira grande glória
Vestindo a amarelinha nas divisões inferiores, Kaio teve o privilégio de rodar pelo mundo desde cedo. Mas foi aqui no Brasil que ele, pela primeira vez, se colocou definitivamente sob os holofotes perante todo o seu país. No Mundial Sub-17, realizado em 2019, o santista foi um dos maiores destaques no caminho rumo ao título.
Em toda a disputa, Kaio foi quem mais arriscou finalizações (28) e os cinco gols marcados lhe renderam o posto de artilheiro do Brasil e de terceiro goleador do certame. O último destes tentos foi de importância crucial para a conquista: o México vencia por 1 a 0 quando o atacante converteu o pênalti que igualou a contagem, antes de Lázaro garantir, nos últimos minutos, o 2 a 1 e a taça.
O Mundo de olho
Destaque inquestionável, com direito a gol na final. Pelo Santos, contudo, Kaio não era tão utilizado apesar dos elogios. Estreou em 2018, sob o comando de Cuca e teve breves participações na temporada seguinte, com Jorge Sampaoli. Decisão dos treinadores, obviamente, uma vez que o clube da Vila Belmiro já havia se cercado de cuidados, inclusive lhe dando um contrato válido até 2021 com multa rescisória de 50 milhões de euros.
Definitivamente, um jogador do Santos
A atual temporada, 2020, já mostra um salto maior de Kaio Jorge dentro do time principal, agora comandado pelo português Jesualdo Ferreira. Considerando todas as competições, já igualou o seu maior número de jogos pelo Santos (7) e recentemente fez o primeiro gol. O atacante saiu do banco de reservas para garantir o 2 a 1 na estreia santista na Libertadores, em duelo fora de casa contra os argentinos do Defensa y Justicia.
“Fico muito feliz pelo gol. Sempre sonhei com esse momento. Eu ficava ansioso, porque todo atacante quer fazer gol. Claro que teve um pouco de nervosismo, chutava a bola de qualquer lugar… mas graças a Deus o gol saiu”, comemorou em entrevista coletiva logo depois.
Ciente de que ainda tem muito caminho a trilhar, Kaio Jorge segue a rotina de dedicação quase inteira ao futebol. Se espelhando no talento de Neymar, nos ensinamentos que teve de Ricardo Oliveira e ciente das comparações com Ronaldo, a joia santista busca trilhar o seu próprio caminho. E como tem sido normal, uma hora este caminho tende a apontar para o futebol europeu.
Terra