Novas regras no futebol valem a partir de 1º de junho - Thiago Gadelha
A expectativa de que as regras do futebol passariam por mudanças foi cumprida. Há exatos 15 dias, em 8 de março, a International Football Association Board (IFAB) aprovou as alterações que entrariam em vigor a partir de 1º de junho. Com a paralisação das atividades esportivas por conta da pandemia do novo coronavírus e a provável retomada somente após esta data, é bem provável que, quando o futebol seja retomado, as novas regras já estejam em vigor. Regras que dividem opiniões entre especialistas.
O ex-árbitro César Magalhães, atual presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Ceará (Sindarf/CE), destaca que a principal mudança (que o toque no começo do braço, junção com a axila, não será mais considerado infração), ainda precisa ser melhor esclarecida.
“Não houve ainda nenhum momento de instrução por parte da CBF, que reúne todos os árbitros para fazer a orientação pontual sobre cada mudança. Nessa última liberação, alguns pontos ainda estão meio duvidosos, tanto que a CBF disse que está aguardando resposta da Fifa sobre alguns questionamentos para, em seguida, marcar com alguns árbitros. Esse é um dos pontos que ainda ficou muito em aberto”, destaca.
Segundo a IFAB, a alteração ocorreu com a finalidade de determinar, com clareza, a infração de mão, se estabelecendo o limite do braço no ponto inferior da axila. Algo que, para César, precisa de maior esclarecimento.
“Alguns dizem que é a barra da camisa, mas tem uniforme que é mais longo, outro é mais apertado, então pelo texto ainda não está claro”, comenta Magalhães.
Só se gerar gol
A organização, que é responsável pelas mudanças ou manutenções nas normas do esporte, também indica um outro aspecto importante na nova regra. O toque de mão involuntário no ataque só deverá ser assinalado caso leve imediatamente a um gol ou a uma “situação manifesta de gol”.
Isso muda diretamente a última recomendação, que pedia que os árbitros marcassem falta em qualquer toque da bola na mão na fase ofensiva das jogadas.
“Esse ponto já é claro, e acho que é bem interessante. Agora tá bem definido que só deve ser marcada uma mão do atacante quando esse toque imediatamente for concluído em gol ou gerar uma oportunidade. Elimina muitas interrupções”, analisa o presidente do Sindarf/CE.
Pênaltis
Outra mudança relevante envolve a cobrança de pênaltis. A IFAB orienta agora que uma infração do goleiro (como adiantar-se antes da cobrança) apenas deverá ser punida caso a ação influencie diretamente no resultado final.
Por exemplo: se o goleiro se adiantar, mas o atacante chutar a bola no travessão ou para fora, a cobrança não deve ser repetida.
VAR
Sobre o árbitro de vídeo, usualmente chamado de VAR, há poucas mudanças significativas. A principal é, na verdade, um reforço para que sempre haja revisão de lance que for interpretativo. Por exemplo, um pênalti não marcado que o VAR entende que é subjetivo, o árbitro deve ir ver o lance no monitor à beira do campo.
Para o ex-árbitro Sandro Meira Ricci, comentarista de arbitragem da TV Globo, uma decisão poderia ter sido tomada neste aspecto.
“Sobre isso, o IFAB infelizmente não considerou necessário liberar o áudio da cabine do VAR. Então para aqueles, como eu, que defendemos total transparência no processo, vamos ter que aguardar”, disse o ex-árbitro Fifa, em publicação no site GloboEsporte.Com.
E as paralisações?
César Magalhães vê as mudanças, no geral, como positivas. “Eu acredito que deixa o jogo fluir mais com essas últimas alterações. As mudanças são sempre visando o melhor desenvolvimento do jogo, a fluência do jogo. Vejo que alguns pontos foram bacanas”, destaca.
Já para o ex-árbitro pernambucano Adriano Siebra, comentarista de arbitragem da Globo Nordeste e do Sistema Verdes Mares, as decisões farão com que o jogo fique mais lento e as constantes alterações da Fifa dificultam a vida dos árbitros.
“O jogo vai ficar muito mais parado agora. Em pênalti, por exemplo, tem muita interpretação. Muita subjetividade. No geral, as mudanças só serviram pra atrapalhar e dificultar o andamento da partida. E acho que a Fifa tem que determinar as regras de uma vez por todas e parar de mexer. Isso atrapalha a cabeça do árbitro. Nos últimos três anos, praticamente, tivemos mudanças. Fica muito complicado”, diz Adriano Siebra.
Certo é que só será possível ver os efeitos práticos quando a bola voltar a rolar.
Diário do Nordeste