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Enem 2024: Candidatos compartilham em rede social ‘cola’ para a redação
Profissionais consideram o uso de modelos prontos nocivos ao desenvolvimento de habilidades de escrita.
Bruna Santos
Estudantes compartilhar colas em redes sociais. Foto: Reprodução

No último domingo (3), milhares de candidatos compareceram às instituições de ensino em todo o país para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao longo da semana alguns concorrentes publicaram nas redes sociais os métodos que utilizaram para ‘colar’ no exame. Entre as técnicas mais compartilhadas estavam os modelos prontos de redação. O ato pode levar à eliminação da prova, segundo edital.

No primeiro dia, os vestibulandos tinham que responder a 90 questões de linguagens e ciências humanas, além de desenvolver uma redação dissertativa-argumentativa com o tema ‘Desafios para a valorização da herança africana no Brasil’. 

Dentro da estrutura de redação argumentativa-dissertativa do Enem é esperado que o estudante faça uma introdução, desenvolvimento e conclusão com proposta de intervenção para o tema proposto. Ainda, é necessário construir os argumentos utilizando referenciais socioculturais, como pensadores, filmes, livros, artigos, entre outros.

Como funcionam os modelos

Com a chamada ‘Modelo de redação do Enem estilo copia-e-cola pra tirar + 900’, uma pessoa compartilhou uma estrutura com referencial padrão. Abaixo, é possível ver como a técnica, considerada não pedagógica por profissionais da educação, é aplicada.

“Seja um hino de glória que fale de esperanças de um novo porvir, com visões de triunfo embale quem por ele lutando surgir”, esse é um trecho do Hino da Proclamação da República, escrito no final do século XIX pelo poeta Medeiros de Albuquerque, que representa um panorama otimista em relação ao futuro da nação brasileira. No entanto, ao sair do campo musical e fazer análise da conjuntura hodierna do país, percebe-se um cenário de tortuosa construção do [EIXO TEMÁTICO]. Com base nisso, surge a problemática do(a) [TEMA (TRAVESTIDO DE PROBLEMA)] e, sob esse aspecto, convém avaliar o motivo basilar dessa questão, bem como suas consequências e refletir sobre possível medida para essa preocupante situação.”

Neste caso, como tema de 2024, ficaria: 

“Seja um hino de glória que fale de esperanças de um novo porvir, com visões de triunfo embale quem por ele lutando surgir”, esse é um trecho do Hino da Proclamação da República, escrito no final do século XIX pelo poeta Medeiros de Albuquerque, que representa um panorama otimista em relação ao futuro da nação brasileira. No entanto, ao sair do campo musical e fazer análise da conjuntura hodierna do país, percebe-se um cenário de tortuosa construção na valorização da herança africana no Brasil. Com base nisso, surge a problemática da falta de reconhecimento e valorização da cultura e suas contribuições na formação da identidade brasileira e, sob esse aspecto, convém avaliar o motivo basilar dessa questão, bem como suas consequências e refletir sobre possível medida para essa preocupante situação.”

Profissionais alertam sobre os prejuízos 

De acordo com a professora de português do município de Juazeiro do Norte,  Gislene Armandilha, a longo prazo a dependência de ‘modelos para provas’ pode ser prejudicial no desenvolvimento do estudante. “Embora estratégias prontas para o ENEM possam proporcionar resultados rápidos e uma sensação de segurança durante a preparação, a longo prazo elas podem prejudicar a formação integral do estudante, limitando sua capacidade de pensar criticamente, desenvolver autonomia e enfrentar desafios mais complexos. A melhor abordagem para uma preparação eficaz envolve compreensão profunda dos conteúdos, desenvolvimento de habilidades de reflexão e argumentação, além da construção de uma base sólida de conhecimento, com uma abordagem mais personalizada e flexível”, explica.

Reprodução

A profissional destaca, ainda, outros malefícios que podem comprometer a nota final, como falta de originalidade, limitação de criatividade, dificuldade em adaptar-se a temas diversos, excesso de formalismo, falta de aprofundamento, dependências de soluções prontas, desenvolvimento de habilidades limitado e risco de plágio.

De acordo com a profissional, os avaliadores buscam ideias críticas. “Em exames como o ENEM, os avaliadores buscam identificar a capacidade do candidato de articular ideias de maneira crítica e reflexiva. Redações baseadas apenas em modelos podem ser consideradas impessoais, sem a individualidade necessária para mostrar seu verdadeiro potencial”, afirma.

A professora de português da rede estadual de ensino, Catarina Matos, aponta que o hábito pode formar pessoas alheias aos debates sociais.Se não colocarmos os estudantes para estudar, pesquisar, pensar e desenvolver as estratégias linguísticas corretas para a sua comunicabilidade, certamente, formaremos pessoas ainda mais alheias aos debates e às decisões importantes para a superação dessa realidade, pessoas facilmente cooptadas por discursos cheios de retórica, mas com pouquíssima profundidade, responsabilidade com a vida em coletivo. Formaremos pessoas sem a capacidade de analisar criticamente a realidade social, política, econômica, cultural, além de não verem perspectiva para as suas vidas“.

Para o 2° dia, estudar até o último segundo pode ser pior

Os candidatos ainda vão encarar mais um dia de Enem no próximo domingo (10). Desta vez, para responder questões sobre Matemática e suas Tecnologias e Ciências da Natureza. Com o nervosismo, muitos vestibulandos intensificam a rotina de estudos.

A prática não é aconselhada pela psicopedagoga Karoline Alencar. Segundo a especialista, pelo menos dois dias antes do exame, o estudante precisa descansar a mente.Não é essa correria do estudo de última hora que vai mudar a nota. A pessoa não vai conseguir nem absorver direito”,alerta.

Para controlar o nervosismo, a psicopedagoga orienta desacelerar o ritmo de revisões, além de priorizar uma boa higiene do sono, para que o conteúdo aprendido durante o dia seja armazenado e bem processado no período de descanso.

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