Imagens da época na inauguração da estátua em bronze de Padre Cícero e da praça. (Foto: Reprodução/Arquivo)
A inauguração oficial da Praça Padre Cícero e uma estátua em bronze do sacerdote completa 100 anos neste sábado. Foi no dia 11 de janeiro de 1925 época em que Juazeiro tinha apenas 14 anos de emancipação política. Era batizada como Praça da Liberdade numa alusão ao fato de ter sido o palco dos movimentos pela independência de Juazeiro em relação ao município de Crato. Há 100 anos era oficialmente inaugurada recebendo a estátua e, depois, o nome do Ministro da Marinha, Almirante Alexandrino.
Ele não pode comparecer, mas garantiu o tom festivo à solenidade mandando ao Juazeiro 80 alunos da Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. O Almirante Alexandrino Faria de Alencar era gaúcho do Rio Pardo, onde nasceu no dia 12 de outubro de 1848 e faleceu cerca de um ano após a homenagem em Juazeiro. Ele foi Ministro da Marinha nos governos dos presidentes Afonso Pena, Nilo Peçanha, Hermes da Fonseca, Venceslau Brás e Artur Bernardes, além de senador da república.
Entretanto, perdeu essa homenagem em Juazeiro no dia 17 de outubro de 1963 época em que o prefeito da cidade era o Capitão Humberto Bezerra. Naquela data, o gestor público sancionou a Lei mudando o nome de Praça Almirante Alexandrino para Padre Cícero. Na época da inauguração oficial da praça e da estátua não existia sequer a Coluna da Hora, cuja pedra fundamental foi lançada no dia 6 de setembro de 1935 pelo então prefeito Francisco Nery Morato.
Eis alguns tópicos do que escreveu José dos Anjos Dias, baseado em texto publicado no Boletim do ICVC (Instituto Cultural do Vale Caririense) no ano de 1982:
“A estátua do Padre Cícero na Praça Almirante Alexandrino, foi inaugurada no dia 11 de janeiro de 1925, e não em 24 de março de 1924 como existe numa placa já que a inauguração seria no aniversário de 80 anos do sacerdote. Por motivo superior deixou de ser naquela data.
O Ministro da Marinha fora distinguido através de convite feito pelo Padre Cícero para vir a Juazeiro assistir a inauguração da estátua e da praça que, depois, receberia o seu nome. Ele acusou o recebimento do convite e agradeceu a gentileza. Alegou ao Padre Cícero que não era possível comparecer ao ato atestatório de bondade e conceito reconhecidamente pelo povo, em oferecer-lhe um monumento para perpetuação à sua memória. Acrescentou mais que mandaria em seu lugar um contingente naval para abrilhantar a solenidade no caso a Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará. Deixava de apresentar-se por ocasião do acontecimento, devido o seu estado de saúde não lhe permitir e terminou morrendo meses após a inauguração da estátua.
Na época prevista ao ato de inauguração da estátua, não foi possível a chegada da referida guarnição que o Almirante prometera enviar ao Juazeiro, em virtude do período letivo. Então, o Ministro da Marinha, com a devida antecedência apresentou ao Padre Cícero desculpas por não poder deslocar a escola, em março, conforme prometera, porque iria interromper a rotina programada ao ensino dos aprendizes marinheiros do Ceará e garantiu para dezembro de 1924.
Padre Cícero e deputado federal, Floro Bartolomeu, concordaram e decidiram esperar pela prometida turma da escola. Em dezembro de 1924, o Ministro ordenou ao Capitão Tenente Pedro Augusto Bittencourt, Comandante da Escola no Ceará, que enviasse seus aprendizes marinheiros ao Juazeiro do Norte e apresentar-se ao Padre Cícero. Todavia, o contingente só conseguiu chegar à cidade nos primeiros dias de janeiro de 1925 após embarcar num trem em Fortaleza até Aurora.
Para chegarem ao Juazeiro, utilizou vários tipos de transportes aqui chegando em 8 de janeiro de 1925, época chuvosa e de muita lama nas estradas. Até então, a Marinha jamais tinha deslocado uma guarnição para o interior, a fim de dar testemunho de respeito ou adesão a nenhum homem por mais influente que fosse e só o Padre Cícero foi merecedor.
Na época, o povo alvoroçou-se para ver de perto os soldados da Marinha e a solenidade de inauguração da estátua no dia 11 de janeiro de 1925. Nunca houve em Juazeiro uma festa como aquela. A guarnição naval veio com cerca de 100 aprendizes marinheiros. Estavam fardados caprichosamente e ficaram formados defronte à estátua, e a banda de música da referida escola executando belíssimos dobrados com o povo eufórico aplaudindo a todo instante.
Além do Padre Cícero, estavam presentes autoridades civis e militares de Fortaleza, Crato, Barbalha e Missão Velha, São Pedro (atual Caririaçu) e Brejo Santo. Diversos oradores fizeram uso da palavra, incluindo o notável Dr. Gomes de Matos que tinha o dom da oratória. O seu discurso de improviso fez o reverendo se emocionar indo às lágrimas”.
Veja um mini documentário narrado pelo humorista Chico Anísio o qual mostra muitas imagens da inauguração da praça: