Hospitais-polos do interior terão incremento de leitos de terapia intensiva Foto: José Leomar
Direito assegurado pela Constituição Federal de 1988, a Saúde é uma demanda emergencial na rede pública, sobretudo. A cada ano, renovam-se as promessas de melhorias em unidades administradas pelo Estado. Para 2020, não seria diferente. A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) projeta a implementação de novos leitos e de um sistema de imagens, além de avanços na telemedicina. Ao mesmo tempo, especialistas elevam perspectivas para outras pautas, a exemplo de terapias integrativas e uso medicinal da cannabis.
Hospitais-polos dos municípios de Tauá, Crateús, Tianguá, Iguatu e Itapipoca terão incremento de leitos de terapia intensiva. A quantidade não foi divulgada, mas a meta é que, até o fim do primeiro semestre do ano que vem, o suporte de atendimento seja expandido. Segundo o titular da Sesa, Dr. Cabeto, a medida deverá suprir um “vazio assistencial” no interior.
“Isso vai aumentar a complexidade das cirurgias dos hospitais da rede conveniada e dos municípios para que a gente possa suprir a fila de pacientes e vai aumentar também a rede de urgência e emergência para melhorar a eficiência do tratamento de doenças agudas, como politraumatismo, AVC e infarto”, garante o secretário.
Tecnologia
Por conta da carência de radiologistas no interior do Ceará, uma outra medida vai permitir a elaboração de laudos a distância. O sistema Pacs, que em tradução livre significa Sistema de Comunicação e Arquivamento de Imagens, será implementado de forma gradativa a partir de março em cinco hospitais de Fortaleza, hospitais regionais e polos, assim como em policlínicas.
Ainda conforme Dr. Cabeto, o método acelera o resultado de diagnósticos. “Permite melhor acesso a exames, como ressonância e tomografia. A visualização a distância permite também que o laudo seja emitido mais rápido, porque a gente tem um déficit de profissionais de radiologia, principalmente no interior”, explica, assegurando que até o fim de 2020, todas as unidades terão o sistema.
Já em relação ao uso da telemedicina, cujo recurso possibilita consultas por meio de videoconferência, o secretário de Saúde adianta que a ferramenta será usada para uma segunda opinião médica.
“A Sesa vai estender agora, no começo do ano, para fazer a parte de segunda opinião de apoio à rede hospitalar na área de cardiologia, UTI e posteriormente em AVC. A gente pretende, até o fim de 2021, estender para a área de dermatologia para que a gente possa melhorar a qualificação da nossa rede”, afirma.
Pautas
Para além dos ajustes prometidos pela gestão estadual, médicos ouvidos pela reportagem apontam também outros dois assuntos que podem render debates promissores no campo da saúde pública do Ceará no ano que vem. O primeiro diz respeito ao uso medicinal da cannabis, que teve aprovação regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em dezembro último, enquanto o segundo reforça a necessidade de inserir terapias integrativas como parte dos tratamentos médicos.
De acordo com Karine Matos, do Núcleo de Defesa da Saúde (Nudesa) da Defensoria Pública, liberar a venda de remédios à base de maconha com prescrição médica é um avanço, muito embora haja incerteza no acesso. “Isso vai facilitar para quem precisa do medicamento, é verdade, mas nós devemos esperar um acréscimo nas demandas aqui, até porque, ele não vai baratear o suficiente para que todos consigam comprá-lo, uma vez que os insumos permanecem sendo importados”, justifica a defensora.
A professora de farmacognosia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Mary Anne Bandeira, acredita que a liberação do plantio medicinal da maconha deve ser precedida de muitas discussões. “Ainda requer muita estruturação de como organizar esse cultivo, porque muita gente ainda associa a maconha à droga e a questão do uso recreativo e não ao uso terapêutico”, pondera a especialista.
Estudo
Apesar de ainda ser “distante” a possibilidade de incorporar os remédios ao Sistema Único de Saúde, a professora pondera que o Ceará já debate a temática, antes mesmo da regulamentação, através do Grupo de Trabalho Cannabis Medicinal do Conselho Estadual de Saúde (Cesau).
Com a decisão da Anvisa, ela considera que novas pesquisas no território estadual poderão surgir. “Eu creio que a gente vai conseguir pesquisar a cannabis, qual a qualidade dela no cultivo aqui no Brasil. De repente, o nosso clima pode até trazer maior princípio ativo do que qualquer outro lugar do mundo”, sugere.
Além do incentivo à discussão sobre a cannabis, o Estado ganha notoriedade com a aplicação de terapias integrativas, conforme a professora de Medicina da UFC e da Universidade de Fortaleza, Paôla Torres Costa. Contudo, ela diz que falta uma “política com metas para implementação das práticas na rede de saúde”. Sendo assim, o destaque se deve aos projetos independentes que oferecem esses tratamentos a pacientes.
“O Ceará tem o Núcleo de Medicina Integrativa (Numi), da UFC, tem o 4 Varas, tem a fitoterapia da Farmácia Viva, mas isso tudo acontece sem o apoio efetivo do Estado e do Município, não é algo que parte deles. A gente cria as demandas e tenta que eles incorporem à rede”.
Dr. Cabeto esclarece que a Sesa “está fazendo um levantamento, não tem projeto ainda” para a implementação de terapias integrativas.
Diário do Nordeste