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Grávida de cinco meses, médica presta primeiros socorros a idoso de 92 anos com Covid-19
Cearense recebia tratamento domiciliar quando apresentou piora rápida no quadro de saúde; Há 19 dias segue internado em hospital privado na capital
Redação
Grávida de cinco meses, a médica Anny Gabrielly não conseguiu deixar de prestar seus serviços de saúde durante a pandemia da Covid-19 Foto: Arquivo Pessoal

Foi por conhecer a solidão sentida na proximidade da morte que a médica Anny Gabrielly Pontes Rocha, 32 anos, não conseguiu manter a distância do paciente confirmado com a Covid-19, José Serafim, 92 anos. Apesar de estar grávida de cinco meses e de ter tendência a uma gravidez de risco, a profissional se manteve ao lado do idoso quando percebeu a diminuição de seus sinais vitais. “Esqueci que estava grávida, peguei na mão dele, cheguei muito perto e disse em seu ouvido ‘estou com você’”, afirma.

O cearense vinha apresentando sintomas da doença desde 16 de maio, porém, o agravamento do caso ocorreu somente no dia 24, quando a médica realizava atendimento domiciliar à esposa de seu José, Terezinha, 84 anos. “Ele estava tomando banho e desmaiou. A família é só gratidão por essa médica ter feito os primeiros socorros e chamado a ambulância. Ele pôde chegar ao hospital ainda com vida”, compartilha a neta do paciente, Kelly Serafim, 37 anos. Há 19 dias, José segue sendo atendido em hospital privado em Fortaleza.

Conforme Gabrielly, uma mistura de sentimentos lhe invadiu ao perceber que o paciente, hipertenso e diabético, estava ficando mais fraco, babando e perdendo a consciência por alguns minutos. A médica, que em 2018 quase morreu em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com uma doença desconhecida, se lembrou da solidão sentida nos seus momentos de maior fragilidade.

“No momento em que eu estava em estado de quase morte, eu só via profissionais distantes e a partir do momento em que um médico me atendeu e ficou comigo, dizendo que estava ali para o que ‘der e vier’, me deu vida. Aquilo me deu forças para voltar a viver”, compartilha.

Ao ver José falecendo, desejou fazer com ele o que fizeram com ela. Por isso, apesar da gravidez, segurou em sua mão, afirmou que estava ao seu lado independente do que acontecesse. “Eu vivi o quase morte, eu sei o que significa isso e eu sei o quanto é importante ter um profissional médico dizendo ‘eu estou aqui com você’”, acrescenta.

Resistência

Conforme a médica, mesmo com a proximidade com o idoso, não chegou a ser contaminada pelo contato tido com José. Desde o início da pandemia, vem realizando atendimentos domiciliares para pacientes com a Covid-19, utilizando todos os equipamentos de proteção. Ciente dos riscos, explica que não conseguiu se manter alheia ao que estava acontecendo.

Iniciou o cuidado de parentes, depois de familiares dos amigos e, posteriormente, abriu o atendimento para outras pessoas.

Depois de sua experiência na UTI, Anny Gabrielly, apoiada em sua fé em Deus, diz não ter medo da morte. “Ou vive aquele medo pelo resto da vida ou pega o trauma e o ressignifica para algo positivo, que foi isso que fiz”. Até o momento, já regista atendimento de aproximadamente 130 pacientes, entre idosos, adultos e crianças. Apenas dois vieram a falecer, por estarem em estado mais avançado da doença.

Na visão da neta de José, a gratidão é primeiro à Deus, mas depois à médica. “É um amor na profissão, uma história de muita bravura. Foi providência divina ela estar exatamente no momento que passou mal. Só minha tinha e minha avó em casa. Se não fosse ela, que tem a calma de ligar e chamar a ambulância, talvez não tivesse dado certo”, finaliza.

Diário do Nordeste

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