Foto: Arquivo Agência Brasil
Um estudo publicado na revista “Information Technology & People”, nesta terça (4), aponta que blogs brasileiros oferecem um espaço seguro para vítimas de violência sexual, através dele, elas expressam seus traumas e iniciam um processo de reconstrução da própria integridade de forma anônima
Pesquisadores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EAESP), da Universidade Federal de Rondônia e da Arizona State University analisaram 33 postagens em blogs com relatos de vítimas sobre atos de violência sexual cometidos por parceiros. Nove entre dez vítimas que relatam seus traumas nestas plataformas o fazem de forma anônima, mantendo sua identidade sob sigilo.
A coleta de dados aconteceu em 2018 e 2019, através do Google, e recuperou inicialmente 347 postagens. A análise considerou somente textos escritos em primeira pessoa e publicados na blogosfera brasileira.
Os pesquisadores apontam que a falta de acolhimento à vítima de violência sexual nas delegacias e a dificuldade de abandonar a relação com o parceiro por conta da dependência financeira são os temas mais presentes nos relatos. Segundo a análise, eles têm relação com a cultura do estupro, em que as mulheres são subjugadas e culpadas pela violência que sofrem mesmo em instâncias de proteção do Estado.
Outra ponto indicado pelos autores, baseia-se na publicação em blogs como um caminho de autoafirmação e empoderamento de mulheres vítimas de abusos que decidem contar a própria história. Em apenas três dos 33 depoimentos as vítimas se identificam.
“O anonimato nos blogs fornece um espaço virtual seguro para as vítimas, que se contrapõe ao ambiente inseguro gerado pela violência sexual.. Ali elas conseguem se revelar, expressar suas dúvidas, seu sofrimento e sua necessidade de escapar da vitimização”, explica Eduardo Diniz, pesquisador da FGV EAESP e um dos autores do estudo.
Diniz aponta, ainda, que os blogs podem ajudar essas vítimas a reconstruir sua integridade, rompida pelos traumas e agressões. “Além de expressar um aumento no bem-estar psicológico, as blogueiras experimentam, também, uma profunda sensação de empoderamento”, completa o pesquisador.