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Aids: entre a existência e a permanência
Nesta quarta-feira, 1 de dezembro é comemorado o Dia Mundial de Combate à Aids. A data foi escolhida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e é celebrada anualmente no Brasil, desde 1988
Yanne Vieira
Região do Cariri registrou 150 casos de HIV e 45 óbitos por Aids em 2019 e 2020. (Foto: Reprodução)

A década de 1980 foi marcada pelo início da epidemia de Aids no Brasil. Abordar a doença, era abordar o preconceito, dar palco para uma idealização de moral, valores e costumes e excluir ainda mais uma parte da população. 40 anos depois, os avanços na tecnologia e na medicina proporcionaram diagnóstico precoce e tratamentos mais eficazes, mas o preconceito e a falta de investimentos ainda permanecem.

Nesta quarta-feira, 1 de dezembro é comemorado o Dia Mundial de Combate à Aids. A data foi escolhida pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e é celebrada anualmente no Brasil, desde 1988.

“Os órgãos brasileiros não estavam preparados para lidar com a doença”

Foto: Arquivo Pessoal Carlos Furtado

O historiador Carlos Furtado, em entrevista à nossa equipe de reportagem, relatou que o vírus da imunodeficiência humana (HIV), foi identificado no continente Africano ainda na década de 30. Transmitido através do sangue de primatas, os sintomas da doenças eram associados à diarreia, e somente na década de 80, com a chegada da Aids nos Estados Unidos da América, foi que a doença passou a ser conhecida.

O Brasil, que sempre herdou a forma de pensar da Europa e a cultura americana, reproduziu a associação da Aids como “doença gay”, afirma Carlos. Além da lógica religiosa da época, “os órgãos brasileiros não estavam preparados para lidar com a doença”. É fato que os casos de Aids apareciam de forma mais frequente em homens gays, porém na época “havia a transfusão de sangue, as agulhas de vacinação não eram descartáveis, e muitas pessoas também injetavam heroína com agulhas compartilhadas”, conclui.

Segundo o historiador, o acesso à informação e a repercussão da mídia em relação à doença foram fundamentais para a diminuição dos casos de HIV, mas ressalta que ainda existem comunidades onde a desinformação e as condições socioeconômicas não favorecem o conhecimento das formas de prevenção e tratamento da doença, além da falta de assistência do estado.

“Ainda há preconceito e estigma é como se os pacientes recebessem uma sentença de morte”.

Foto: Arquivo Pessoal Ana Raquel

A infectologista da Hapvida, Ana Rachel de Seni, explicou à nossa equipe de reportagem que o vírus do HIV ataca o sistema imunológico que é responsável por defender o organismo de doenças, e mesmo após a infecção, a pessoa pode ficar anos sem desenvolver nenhum sintoma.

“A Aids se caracteriza por um comprometimento importante do sistema imunológico, assim infecções que seriam facilmente combatidas por um sistema imunológico competente, se desenvolvem, e elas vão dar sinais e sintomas de acordo com o órgão que foram acometidos, pode acometer o cérebro, dando meningite, infecções no pulmão que podem se manifestar como pneumonias comuns ou pneumonias mais graves, como a pneumocistose e tuberculose, infecção dos olhos como perda visual e outras infecções”, explica a infectologista Ana Rachel.

De acordo com a infectologista, o vírus é transmitido principalmente através de relações sexuais, de mãe pra filho durante a gestação e o parto e também através do sangue. De forma geral, a doença tem como sintomas principais a perda de peso, falta de apetite, queda de cabelo e diarreia.

PREVENÇÃO E TRATAMENTO

A infectologista Ana Raquel, reforça a prevenção combinada a partir de medidas como o uso de camisinha em relações sexuais, medicamentos antirretrovirais (AR), acompanhamento de gestantes que possuem o vírus, tratamento para os portadores de HIV e a atenção ao diagnóstico precoce.

Mesmo com o avanço da medicina e a diminuição nos números de infecções e mortes pelo vírus, a infectologista afirma que “ainda há preconceito e estigma é como se os pacientes recebessem uma sentença de morte”, e ressalta que é importante desmistificar esses conceitos associados para se ter uma melhoria na qualidade de vida dos pacientes.

De acordo com o Ministério da Saúde, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente testes para diagnóstico do HIV e também para outras doenças como a sífilis e as hepatites B e C. Os exames são realizados a partir da coleta de uma gota de sangue ou de fluido oral. O tratamento para HIV e Aids é garantido e fornecido pelo SUS a partir de uma combinação de comprimidos conhecidos como coquetel “muito potentes e com poucos efeitos adversos”, afirma a infectologista Ana Rachel.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou nesta segunda-feira (29), o tratamento de HIV com apenas um comprimido combinado das substâncias lamivudina e dolutegravir sódico.

HIV E AIDS NO CEARÁ

Foto: Reprodução Boletim Epidemiológico Sesa

De acordo com os dados da Secretaria da Saúde do Estado do Ceará (Sesa), no período de janeiro de 2011 a dezembro de 2020 foram diagnosticados 12.745 novos casos de HIV e 10.609 de Aids no estado. Em 2020, o número de casos novos de infecção pelo vírus teve queda importante, porém em decorrência da pandemia de Covid-19, os diagnósticos nos serviços de saúde foram limitados.

Segundo a Superintendência Regional de Saúde (SRS), o cenário epidemiológico da infecção pelo HIV na região do Cariri apresentou nesse período (2010 a 2020) taxa de detecção de 359, representando 2,9% dos casos em todo o estado.

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