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Além de causar danos à saúde, alimentos ultraprocessados também afetam a biodiversidade
De acordo com pesquisadores o consumo desses alimentos têm crescido nos últimos 30 anos em todo o mundo, principalmente em países de renda média-alta e de renda média-baixa
Yanne Vieira
Foto: Ilustrativa Pixabay

Pesquisadores das universidades de São Paulo, de Harvard, nos Estados Unidos, e Deakin, na Austrália, publicaram na revista “BMJ Global Health”, nesta segunda-feira (28), um comentário sobre sistemas alimentares. Com ênfase no efeito negativo de alimentos ultraprocessados sobre a agrobiodiversidade, os estudiosos afirmam que esta categoria alimentar tem sido ignorada pelas autoridades globais e conferências sobre mudanças climáticas.

Os pesquisadores definem a agrobiodiversidade como a variedade e a variabilidade de animais, plantas e microorganismos que são usados ​​de forma direta ou indireta para alimentos e agricultura, sendo crucial para a resiliência e o mantimento de sistemas alimentares sustentáveis.

“A agrobiodiversidade global está em declínio, especialmente a diversidade genética de plantas usadas para o consumo humano”, apontam os participantes da publicação. Mais de 7000 espécies de plantas comestíveis foram identificadas e usadas para alimentação humana desde a origem da agricultura, mas atualmente 90% da energia consumida pela humanidade vem de apenas 15 espécies, e mais da metade da população conta apenas com o consumo de arroz, trigo e milho.

O relatório aponta que a queda da agrobiodiversidade está diretamente relacionada à produção cada dia mais dominante de alimentos ultraprocessados por corporações transnacionais, que segundo os pesquisadores, essa “dieta global”, têm crescido nos últimos 30 anos em todo o mundo, principalmente em países de renda média-alta e de renda média-baixa, reduzindo o espaço dos padrões alimentares tradicionais, incluindo alimentos in natura.

Os ultraprocessados são formulações prontas para consumo, feitas a partir de um número reduzido de commodities como açúcar, milho, soja e trigo, além de aditivos cosméticos, que incorporam cor, sabor, aroma e textura ao alimento. Como, por exemplo, salgadinhos, refrigerantes, sucos de caixinha, macarrão instantâneo, massas e pizzas prontas, entre outros.

Além dos impactos na agrobiodiversidade, evidências científicas apontam que o alto consumo desses alimentos leva ao aumento do risco de desenvolvimento de doenças crônicas como a diabetes, hipertensão e até mesmo câncer.

De acordo com Fernanda Marrocos, uma das cientistas que assinam o comentário, “um estudo ainda em curso no Brasil já mostrou que, entre mais de 7 mil alimentos ultraprocessados, foram identificados dentre os principais ingredientes que os compõem: açúcar (52,4%), leite (29,2%), trigo (27,7%), milho (10,7%) e soja (8,3%)”, e que “consequentemente, as dietas vêm se tornando menos diversas, reduzindo a variedade de alimentos frescos necessária para uma alimentação adequada e saudável”, afirma.

“Mesmo com a ciência esclarecendo cada vez mais as relações da dieta ultraprocessada com os impactos ambientais, o tema ainda não é adequadamente considerado por organizações globais em conferências internacionais sobre o tema”, afirma Carlos Monteiro, um dos autores do texto. “As próximas convenções sobre sistemas alimentares, biodiversidade e mudanças climáticas devem destacar a destruição da agrobiodiversidade causada pela produção de alimentos ultraprocessados, gerando acordos e políticas públicas para reverter desastres ambientais”, diz.

 

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